Não era gosto de dia-a-dia, e sim de dias especiais. Tão especiais que até dá para contar nos dedos.
Férias escolares com direito a viagem! Acho que foram três no máximo, longas viagens de duas noites e um dia e muitas paradas em cidades pequeninas e aconchegantes.
De São Paulo a Sergipe, muitas expectativas se acumulavam: encontro com a única avó ainda viva, paisagem de secura, memórias de mãe retirante...Viagens pontuais, mas extremamente providenciais.
A cada parada um novo ar, um novo sotaque, novas lembrancinhas. Mas havia um gosto que era comum a todas: o POLVILHO! Da saída de São Paulo, ainda em Aparecida do Norte; passando por Minas, de onde provavelmente ele se espalhou; até chegar ao Nordeste, ele vai dando o gosto à viagem...
Apesar de degustar muitas outras delícias e gostos estranhos ao meu paladar após a chegada em Poço Verde - SE, de buchada de bode a umbunzada, foi o leve sabor do biscoito de polvilho que ficou.
Só depois soube de minha avó paterna mineira. Talvez dela tenha herdado esse gosto, justamente quando ia de encontro à avó nordestina!
Quando em minha terra natal, o ato de experimentar biscoito de polvilho remete a lembrança de encontros esfusiantes e despedidas dolorosas, que não se repetiram muitas vezes, entre minha mãe e minha avó.
Só depois vim perceber minha fissura pela mandioca, e por todos os produtos derivados dela, inclusive o polvilho. Hoje penso que, degustar o biscoito de povilho durante a viagem de encontro de minhas raízes, também pode simbolizar o (des)enraizamento da mandioca, matéria-prima minha.
O mais curioso é que a primeira história que consta em minha memória, contada pela professora ainda no prezinho, é sobre o surgimento da mandioca! Mas esta eu conto depois....
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