As duas moças bonitas como melancias


"...Era uma aldeia como as outras, onde as vacas tornam os homens ricos, mesmo na tristeza. É lá que moravam duas moças grandes e bonitas: duas amigas. Elas eram tão bonitas e tão redondas quanto uma melancia.Essas duas moças eram muito sossegadas e trabalhadoras. Costumavam preparar a quatro mãos o gunji para fazer um molho gostoso, bem consistente. Elas, que nunca tinham conhecido um rapaz de perto, nasceram rosadas como todas as crianças da África, antes de adquirirem a linda pele negra e luzidia. A beleza delas era tanta, que diziam que um feiticeiro nômade tinha deixado seus dois olhos em algum canto da aldeia, para admirá-las enquanto percorria a selva...."

In: PINGUILLY, Yves. Contos e lendas da África. São Paulo : Companhia das Letras, 2005. p. 165-6.





“Conta-se, ó rei, que havia no Cairo um jovem mercador que era belo, elegante, e que havia se consagrado completamente ao estudo. Um certo dia, ele lia um livro sentado à porta quando uma jovem passou por ele, bela como a lua brilhante ou como a gazela que foge na campina. Aproximou-se dele, ergueu o véu que lhe cobria o rosto e disse...”
(Mi’at Layla Wa Layla –Tradução: Paulo Daniel Farah)

Conto do Magrebe

MAGREBE – Região que compreende Marrocos, Argélia e Tunísia, no norte da África.

Os árabes chegaram à região nos séculos VII e VIII e levaram consigo a língua e a religião. Até hoje, afora o árabe, esses países falam o berbere, uma língua indo-européia, ao passo que o árabe é uma língua semítica.

Antigamente, os habitantes da África do Norte chamavam-se líbios, que mais tarde, em bases geográficas, passaram a ter várias denominações: númidas a Leste, mouros a Oeste. Os seus descendentes chamam-se kabilas na Argélia e na Tunísia, tuaregues no Saara, berberes em Marrocos. Poderíamos reunir todos sob a designação de berberes.


HISTÓRIA DE EL-GHALIYA BINT MANSUR
(soberana dos sete mares e dos pássaros)

Laila el-Ghaliya bint Mansur morava no fundo do sétimo mar; e era uma águia dos mares que a levava ao dorso para atravessá-los Ela mandava em todos os pássaros. Dormia um ano e ficava acordada no outro. Fazia seu leito com metade da cabeleira e cobria-se com outra metade para dormir. Era virgem. Seu palácio tinha sete portas. A águia tinha suas chaves e guardava o palácio.

Um dia, um humano tomara conhecimento de todas essas coisas espantosas, apaixonou-se loucamente pela soberana dos sete mares e dos pássaros e disse:

- Àquele que me fizer encontrar essa maravilha, darei todo o ouro e toda a prata que tenho.

Um pássaro, entre os grandes pássaros, ouviu aquilo e disse:

- Vá à margem do mar com teu cavalo; sacrifica-o à águia dos mares e verás o que verás.

Mais que depressa, o homem fez o que lhe foi aconselhado; todos os pássaros chegaram e regalaram-se do sangue do cavalo, e depois exclamaram:

- Por que esta oferenda?
- É porque desejo que a águia dos mares me transporte ao palácio de El-Ghaliya bint Mansur, disse o homem.
- Eu te transportarei – disse a águia dos mares -, mas é preciso que me prepares sete refeições de carne e sete tubos de salgueiros cheios de sangue de cavalo para comer durante a viagem.

O homem preparou as provisões e montou sobre as espáduas da águia. Nutriu-a durante a viagem, fê-la comer e beber ao fim de cada mar, e quando a águia dos mares bebeu sete tubos de sangue e comeu as sete refeições de carne, encontraram-se diante da sétima porta da soberana.

A águia abriu as sete portas e pôs o homem num jardim maravilhoso, cheio de flores e frutos, e conduziu-o ao quarto de El-Ghaliya bent Mansur . A rainha dormia. Estava deitada sobre a metade de sua cabeleira e coberta por outra metade.

O homem não resistiu ao amor que o abrasava e engravidou-a. Depois tornou a partir como viera, sobre as asas da águia dos mares.

Quando seu sono de um ano acabou, a soberana dos sete mares e dos pássaros percebeu que o seu ventre havia se desenvolvido consideravelmente durante o sono. Então chamou a águia dos mares, guardiã das suas sete portas, e interrogou-a até que ela confessou sua culpa contando o que se havia passado.

Como ela reinava também sobre os afaríts e os djinns, os gênios, ela esfregou seu anel e convocou-os. Num piscar de olhos, seu palácio encheu-se de um exército às suas ordens.

Ela lhes disse:

- Vede todos, eu que vivo retirada, no fundo do mar, engravidei durante o meu sono e quero saber quem é o culpado para vingar-me.

Logo o exército se organizou: a águia dos mares, que tinha aberto as portas, partiu na frente para dirigir a comitiva. Chegaram a uma ilha e aí encontraram belas casas e belos jardins. A águia dos mares disse:

-Foi aqui que o homem montou nas minhas asas.

Então os djinns e os afaríts sopraram sobre a ilha uma tempestade assustadora que derrubou todas as árvores e fez cair todas as casas. Os habitantes assustados gritavam:

- Por quê? Por que isto?

Mas o exército de afarits e de djinns continuou a demolir tudo, depois a rainha adiantou-se e disse:

- É para vos punir por terdes violado a minha solidão e me haverdes feito crescer o ventre.

Então o culpado adiantou-se; era mais belo que o sol e gritou:

- Ó rainha, pune a mim somente, pois sou o único autor desse crime. Eu te amo e, se não tivesse te possuído no teu leito no fundo do sétimo mar, morreria de dor. Mata-me, pois, ó soberana dos sete mares e dos pássaros, dos djinns e dos afarits.

Mas El Ghaliya bent Mansur também era jovem e bela e não ficou insensível à beleza do seu amante. Assim, respondeu-lhe:

- Temos mais o que fazer na vida do que nos matarmos. Vem cuidar daquela que fizeste mãe.

Então a tempestade parou de soprar; o exército dos afarits e dos djinns deu meia-volta sob as ordens da rainha e daquele que ela vinha de escolher para marido e companheiro.

Por que o sol e a lua foram morar no céu

Há muito tempo, o sol e a água eram grandes amigos e viviam juntos na Terra. Habitualmente o sol visitava a água, mas esta jamais lhe retribuía a gentileza. Por fim, o sol quis saber qual o motivo de seu desinteresse e a água respondeu que a casa do sol não era grande o bastante para que nela coubessem todos com quem vivia e, se aparecesse por lá, acabaria por despejá-lo de sua própria casa.

- Caso você queira realmente que eu o visite, terá que construir uma casa bem maior do que a que tem no momento, mas desde já fique avisado de que terá que ser algo realmente muito grande, pois o meu povo é bem numeroso e ocupa bastante espaço.

O sol garantiu-lhe que poderia visitá-lo sem susto, pois trataria de tomar todas as providências necessárias para tornar o encontro agradável para ela e para todos que a acompanhassem. Chegando em casa, o sol contou à lua, sua esposa, tudo o que a água lhe pedira e ambos se dedicaram com muito esforço à construção de uma casa enorme que comportasse sua visita.

Quando tudo estava pronto, convidaram a água para visitá-los. Chegando, a água ainda foi amável e perguntou:

- Vocês têm certeza de que realmente podemos entrar?
- Claro, amiga água – respondeu o sol.

A água foi entrando, entrando e entrando, acompanhada de todos os peixes e mais uma quantidade absurda e indescritivelmente grande, incalculável mesmo, de criaturas aquáticas. Em pouco tempo a água já se encontrava na altura dos joelhos.

Quibes fritos com coalhada seca

Quando eu ia à casa de minha avó paterna, quando ela ainda era forte e ativa, eu via o "pacotinho" de pano branquinho amarrado à torneira da pia... pingando.

Era uma delícia quando ela servia, juntamente ao pão "Pitta", pequenos quibes fritos na hora, a coalhada seca...

Hoje, meus filhos já a misturam com outros temperos: azeite, sal e orégano.

Simone Elias, 17/03/07

Pão-doce às terças-feiras

Lembro-me da primeira série do ensino fundamental. Eu tinha 8 anos e fui morar com a minha avó e meus tios para poder freqüentar a escola, uma vez que meus pais moravam em um bairro afastado, sem acesso à escola.

No bairro em que eu morava com meus avós ainda não havia padaria. Então, todas as terças-feiras, meus avós pegavam a charrete e íamos à feira. Era ali que ela comprava os “pães-doces” para eu levar de lanche na escola. Os primeiros eram macios, mas, com o decorrer dos dias, os últimos iam ficando duros. Mesmo assim, eu os comia e esperava a próxima terça-feira.

Regina Aparecida da Silva, 17/03/07

Curso de Contos Africanos e Árabes

O curso foi criado com o objetivo de estimular a leitura de contos de regiões pouco estudadas na escola, como a África e o Oriente Médio. A primeira experiência contou com o apoio do Programa de Ação Cultural (PAC), da Secretaria de Estado da Cultura, e foi desenvolvido para educadores e jovens da região do Jd. Ângela, em São Paulo.

Em todas as culturas podemos encontrar a presença da tradição oral, das histórias que, passadas de geração para geração, constituem importante mecanismo de preservação da memória, da história e da identidade dos povos. Essas histórias revelam modos de agir, pensar, viver, dramas cotidianos, sentimentos e angústias humanas.

É uma proposta que estimula jovens, educadores e interessados, a entrarem em contato com histórias que, muitas vezes, são mais próximas de sua realidade do que as presentes na literatura européia. Ao proporcionar o contato com histórias tradicionais, o curso contribui para que os participantes se apropriem da prática de ler e contar histórias.


Informações:
Tel: (11) 9251 9895
E-mail: : nyldarodriguez@uol.com.br , pauloili@uol.com.br

Organizadores:
Paulo Daniel Farah - Coordenador Geral - é professor doutor no programa de graduação e de pós-graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Autor de O Islã, Glossário de Termos Islâmicos e ABC do Mundo Árabe, entre outras obras, e BIBLIASPA - Biblioteca/Centro de Pesquisa América do Sul/Países Árabes.

Nilda Rodrigues - Coordenação Executiva – Jornalista, é consultora de Comunicação em organizações não governamentais e empresas, coordenou a Oficina de Jornalismo Experimental da ONG Papel Jornal, a organização do I Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental e editou a revista Com Ciência Ambiental, entre outros

Participação especial
Neide Almeida - Socióloga, mestre em Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas pela PUC-SP. Trabalha há 20 anos com ensino de leitura e produção de textos, especialmente na formação de professores. Atualmente integra a equipe que coordena o Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil, atua como pesquisadora pelo Cenpec e desenvolve pesquisa autônoma sobre Literatura Negra


Orientadores Convidados
Álvaro Santos - Professor de Dança
Anicet Lopes Bakusha - Educador e contador de histórias
Cristiane Maia - Educadora licenciada em Letras
Cristina Rodrigues – Contadora de histórias, educadora
Flavia Nathalia – Professora de dança, estudante de letras
Giba Pedroza – Contador de histórias, escritor
Luciana Dias - Divulgadora, estudante de sociologia
Marlene Bergamo – Fotógrafa