BAB’AZIZ — O Príncipe que contemplou sua alma

Um poema visual de enorme beleza, uma obra de arte de Nacer Khemir e o último e filme da Trilogia do Deserto. O filme inicia-se com a estória de um Derwish de nome Bab`Aziz e sua neta espiritual, Ishtar. Juntos eles percorrem o deserto a procura de uma grande reunião de dervishes que ocorre uma vez a cada 30 anos. Tendo a fé como seu único guia, os dois viajam por vários dias pela imensidão. Para ajudar a suportar a viagem, Bab`Aziz passa a contra estórias do príncipe do deserto que contemplava sua alma ao lado de uma pequena piscine. Conforme a estória é contada, os viajantes encontram outros viajantes que também contam suas estórias. Repleto de imagens maravilhosas e uma música belíssima, Nacir Khemir criou uma fabula inédita e encantadora filmada nas areias da Tunisia e do Irã. O roteiro deste filme foi escrito pelo próprio Khemir em parceria com Tonino Guerra, autor de diversos roteiros de grande sucesso (Amarcord, Night of the Shooting Stars, Blowup, entre outros).
 

O CÉU COMO GUIA DE CONHECIMENTOS E RITUAIS INDÍGENAS


Há muito tempo, contam os índios Tembé, da Amazônia, havia uma grande aldeia nas margens do rio Capim, no estado do Pará. Nessa aldeia vivia um cacique que tinha uma filha muito bonita, olhos negros e cabelos lisos e longos, chamada Flor da Noite. Ela gostava de ficar às margens do rio, observando o pôrdosol. Em uma noite de lua cheia, a índia adormeceu na praia e foi acordada por um grande barulho que vinha do rio. Então, um rapaz saiu da água e eles passaram a namorar em todas as noites de lua cheia. O rapaz, porém, era um boto Tupi cor-de-rosa e, depois de engravidar Flor da Noite, nunca mais voltou. A índia deu a luz a três botos e, embora triste, ela decidiu solta-los nas águas do rio, para que eles não morressem.
Assim, quando sentem saudades da mãe, os três botos unem-se a procura dela, saltando sobre as águas, sempre na lua nova e na lua cheia, fazendo uma grande onda que se estende ate as margens do rio, derrubando arvores e virando barcos.


Entenda melhor o sentido dessa fábula: http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v64n4/a23v64n4.pdf

"Uma definitiva presença", de Bartolomeu Campos de Queirós

Para celebrar o dia do professor

Nas lembranças do premiado escritor Bartolomeu Campos de Queirós, ficou marcada  a figura da professora que lia histórias para ele e seus colegas numa escola do interior de Minas Gerais.
 
Veja o texto completo:

Livro 'Histórias Árabes', de Ana Maria Machado

No começo deste ano, ela lançou um livro onde reconta histórias árabes para crianças. Ela já publicou outro, há quatro anos, no qual uma das personagens principais era a rainha egípcia Nefertiti. Agora, depois de trazer um pouco da cultura árabe para o universo infantil brasileiro, começa a mostrar a sua literatura para os árabes. Um dos livros de Ana Maria Machado faz parte de uma antologia organizada pela Embaixada do Brasil no Kuwait e outro está no catálogo da Bloomsbury do Catar para publicação em janeiro de 2013. Também há negociações com uma editora dos Emirados Árabes Unidos.

Mas Ana Maria tem uma predileção especial pelos árabes? Não exatamente. No universo de livros escritos por ela, que são mais de cem, quatro ou cinco iniciativas são gotas na chuva. A escritora é uma apreciadora da literatura da região. "Fui muito marcada pela leitura de Edward Said, que me chamou a atenção para outros diversos autores do Oriente Médio, que fui procurar e fui descobrindo aos poucos: Tariq Ali, Albert Hourani, Tahar Be Jelloun e outros. Gosto imensamente da obra de Amin Maalouf, que li quase toda. E considero ‘Les Enfants du Nouveau Monde’, de Assia Djebar, um belo romance, fortíssimo", afirmou a autora.
 
Tudo isso, porém, além de o fato de ter pessoas de origem árabe em suas relações afetivas, não foram o motivo direto pelo qual resolveu escrever “Histórias Árabes”, livro no qual reconta quatro contos árabes. “Mas todas essas razões indicam meu interesse por essa cultura”, diz ela, que é uma das maiores autoras brasileiras de livros infantis e presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), em entrevista à ANBA por email.
O livro “Histórias Árabes” faz parte de um projeto com a editora FTD de recontar histórias de diferentes tradições culturais. Já foram publicados, além do árabe, livros sobre Grécia e os persas. Está em fase final de edição o volume sobre a China e Ana Maria está escrevendo sobre histórias africanas. Em seguida devem vir as russas. A escritora conta que para escrever parte principalmente da memória do que leu e ouviu pela vida afora, mas também pesquisa em livros esgotados ou fora do comércio, nos guardados das crianças da sua família.
 
“Quando eu era pequena, tinha uma coleção que me encantava: ‘Os mais belos contos de fada’, da Editora Vecchi. Havia os húngaros, poloneses, franceses, irlandeses, ingleses, árabes, indianos, persas, mais de vinte volumes. Eu e meus irmãos líamos e relíamos, sempre. Faziam parte do nosso repertório. E acho que hoje em dia as crianças estão mais afastadas desse acervo, um patrimônio tão rico. Então quis recontar”, afirma.
 
Ana Maria esclarece, no entanto, que esta é uma realização literária e não uma proposta de pesquisa etnográfica. Por isso não teve a preocupação de comparar versões e em muitos casos não teve outro livro para comparar. “Agrego minha visão pessoal, preservada pela memória. No caso dos contos árabes e persas, não acho que eu agregue, mas acentuo a ênfase na hospitalidade, a religiosidade no cotidiano, a força que tem a presença de gênios, a importância do mercado, dos mercadores e do comércio, do respeito ao saber”, afirma.
Sobre as histórias árabes, a escritora conta que fez com muito carinho em função da fascinação que teve por elas quando era criança e depois quando estudou literatura e leu a obra “As Mil e Uma Noites”. “Minha madrinha era libanesa, na casa dela se falava árabe, sempre convivi muito com a colônia sírio-libanesa no Brasil, esse é um mundo cultural que respeito, admiro e me fascina. O Brasil é muito marcado por essa influência, todos nós temos muitos amigos de origem árabe e nem reparamos, porque somos uma sociedade que tende a aceitar a integração”, afirma.
 
No livro "Histórias Árabes", o conto de Ali Babá é um dos mais conhecidos no Brasil. Trata da história do lenhador Ali Babá que encontra uma caverna de tesouros pertencentes a quarenta ladrões. Também faz parte do livro “O Cordeiro de Bagdá”, no qual dois amigos ricos fazem uma aposta para provar se o que traz felicidade é dinheiro ou virtude e ajuda de Alá. A obra traz ainda "O Pássaro Falante", com a história da caçula de três irmãs que casou com o sultão e despertou a inveja das outras, e "Tapete, luneta e damasco", na qual três irmãos disputam a mão da filha do sultão.
 
Ana Maria trabalha no projeto com a FTD há cerca de quatro anos. Ela afirma que, em geral, as crianças de qualquer país sabem pouco sobre as outras culturas e é muito bom que tenham a oportunidade de saber mais. “Mas tenho certeza de que qualquer criança, em qualquer lugar, se interessa por uma história bem contada, venha de onde vier. Faço votos para que os habitantes dos países árabes, de qualquer idade, também possam conhecer bem a literatura brasileira um dia. E que um autor dessas culturas nos leia tanto quanto lemos a eles”, diz.
O livro de Ana Maria que faz parte antologia organizada pela embaixada do Brasil no Kuwait é “De fora da arca” e foi traduzido para o árabe. Ele conta a história daqueles que não quiseram subir na Arca de Noé. O livro que será publicado pela Bloomsbury, do Catar, também em árabe, é “Era uma vez um tirano”. A obra traz a história de um país onde as pessoas viviam felizes, conversavam e tinham ideias, até o aparecimento de um tirano, que atrapalhou tudo e reclamava até das cores e das estrelas. O título que deverá ser publicado nos Emirados é outro, mas Ana Maria prefere não revelar enquanto a negociação não estiver concluída.

O outro livro que Ana Maria escreveu e que tem relação com o mundo árabe foi "Mensagem para Você". Na obra, a autora conta a história de cinco coleguinhas de classe que fazem um trabalho escolar sobre a rainha Nefertiti, no qual misteriosamente aparece um trecho sobre a importância intelectual da egípcia, que eles não escreveram. Eles também começam a receber mensagens anônimas que parecem vir do passado e vivem uma bela aventura tentando decifrar os acontecimentos.

Fonte: http://www.anba.com.br

Curso: Semeando cultura de paz com histórias, jogos e cantigas para crianças

Esquece-se que os contos são verdadeiras obras de arte. Eles são uma grande arte que pertence ao patrimônio cultural de toda a humanidade e que representam a visão do mundo, as relações entre o homem e a natureza sob as formas estéticas mais acabadas, aquelas que provocam precisamente o maravilhoso”
Jean-Marie Gillig


A UMAPAZ convida para o curso “Semeando cultura de paz com histórias, jogos e cantigas para crianças”. O ato de contar histórias existe desde tempos muito antigos. Fez e faz parte da evolução social do homem que, desde quando descobriu o poder do fogo, se transformou num ser gregário, estabelecendo suas primeiras relações sociais ao redor das fogueiras.

Dessa maneira contavam-se fatos e descrevia-se a vida que os seres humanos viviam. Assim, a oralidade foi o fator determinante para as histórias sobreviverem aos tempos, graças ao encantamento que elas produzem por si só, entre o contador e os seus ouvintes. Podemos inegavelmente afirmar que todos nós alguma vez já ouvimos ou contamos histórias. Elas permanecem em nossa memória, de forma que, sem dificuldades, conseguimos nós lembrar ao menos de uma ou mais que marcaram a nossa infância, juventude ou em qualquer tempo.

Pensando nessa autêntica cultura de paz que o ato de contar histórias, os jogos, a música e o brincar sempre proporcionaram ao ser humano, a UMAPAZ apresenta este curso, que pretende, de forma lúdica e descontraída, oferecer às crianças um ambiente onde este conjunto de atividades se entrelace e converse, tecendo os fios da semeadora da cultura de paz entre seus valores e práticas.

Programa de aulas:

1º aula - 20/10:

Fábulas de Esopo e La Fontaine, O livro das virtudes.
Jogos e brincadeiras relacionados, desenhos, cantigas de roda.

2º aula - 27/10:

Mitos e lendas do Brasil, África, Grécia e Roma. Fábulas e histórias do folclore brasileiro – (Pedro Malasartes), “Curiosidades”. Jogos e brincadeiras.

3º aula - 10/11:

Contos de Fadas e outras histórias.
Dinâmicas de trocas de histórias contadas.

 
4º aula - 24/11:

Histórias da Natureza: Animais, insetos, etc.
Brincadeiras, desenhos, jogos no parque.


5º aula - 01/12:

Miscelânea: Histórias de autores brasileiros e estrangeiros. Presença de três autoras de livros infantis - convidadas.

 
6º aula - 15/12:

Histórias de Natal.

Atividades práticas e sorteio de livros. Finalização.

Dias e horário: 20 e 27 de outubro, 10 e 24 de novembro e 1 e 15 de dezembro (sábados), das 10h às 12h30.

Carga horária: 15 horas/aula.

Vagas: 16; serão contemplados os primeiros inscritos.

Público focalizado: Crianças de cinco a dez anos – acompanhadas de seus pais, familiares ou responsáveis.

Local: Escola Municipal de Astrofísica (ao lado do Planetário) – Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Parque Ibirapuera. Portão 10, somente para pedestres e Portão 3 estacionamento (Zona Azul).

Facilitação e coordenação: Nadime Boueri - Formada em Comunicações e Artes pela USP, com pós-graduação “Lato sensu” em arte-educação, pela USP. Trabalhou como bibliotecária durante 17 anos na Secretaria da Cultura da PMSP, e entre inúmeras atividades culturais, foi Diretora da Biblioteca Municipal Pref. Prestes Maia e Coordenadora Regional da Rede de Bibliotecas Públicas da Região Sul. Há três anos trabalha como técnica na UMAPAZ, em projetos e atividades ligadas à Cultura de Paz e Meio Ambiente.

Serviço: Curso: Semeando cultura de paz com histórias, jogos e cantigas para crianças
Facilitação e coordenação: Nadime Boueri
Dias e horário: 20 e 27 de outubro, 10 e 24 de novembro e 1 e 15 de dezembro (sábados), das 10h às 12h30.
Vagas: 16 - serão selecionados os primeiros inscritos.
Local: Escola Municipal de Astrofísica (ao lado do Planetário) – Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Parque Ibirapuera. Portão 10, somente para pedestres e Portão 3 estacionamento (Zona Azul).


FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
Curso: Semeando cultura de paz com histórias, jogos e cantigas para crianças
1. Nome completo:
2. Idade:
3. Sexo: M( ) F( )
Dados do acompanhante responsável
4. Nome completo:
5. Idade
6. Sexo: M( ) F( )
7. Profissão/atividade que exerce atualmente:
8. Se educador, instituição em que exerce a função:
9. Endereço residencial:
10. Bairro:
11. CEP:
11. E-mail:
12. Telefone fixo:
13. Telefone celular:




 

Literatura para todos e para cada Um

III Seminário de Leitura do Literasampa: " Literatura para todos e para cada Um "

http://literasampa.blogspot.com.br/

CANTO LIVRO

Programação gratuita para professores e educadores que promove sua formação cultural, fomentando seu papel de espectador e multuplicador das diferentes expressões artísticas exibidas no mam.

15 e 22 de setembro (sábado)
14 - 18h
Oficina Canto Livro
Arte, literatura e poesia

O projeto Canto Livro formado pelo poeta e compositor Jean Garfunkel e pela cantora e contadora  de histórias Joana Garfunkel, conduzirá professores e educadores por um percurso pela música, literatura e poesia, a partir da idealização de um roteiro até a sua apresentação lítero-musical.
A oficina Canto Livro desenvolve novas estratégias de incentivo à leitura, fazendo dela uma expreriência viva e emocionante.

29 de setembro (sábado)
14 - 18h
Oficina Canto Livro
Arte, literatura, poesia e libras (língua brasileira de sinais)

Com a professora e intérprete Amarílis Reto, essa oficina do projeto Canto Livro irá propor a apresentação de textos poéticos em suas múltiplas possibilidades. Nesse encontro, professores e educadores irão relacionar a música, literatura, poesia com a língua brasileira de sinais.

MAM São Paulo
Parque Ibirapuera, portão 3
educativo@mam.org.br
Tel.: (11) 5085-1313
vagas limitadas
informações e inscrições
educativo@mam.org.br
(11) 5085-1313

Cine Kurumin – Mostra Audiovisual Indígena

O Cine Kurumin – Mostra Audiovisual Indígena – realiza exibições de filmes e oficinas de audiovisual e mídias digitais em aldeias indígenas brasileiras. O projeto faz parte da rede do Espalha a Semente e já realizou sessões nas aldeias Tupinambá – Pataxó – Pataxó hãhãhãe – Tumbalalá – Yawalapiti (Alto Xingu).
Conheça o acervo de filmes com temática indígena: http://cinekurumin.wordpress.com/

Revista Machado de Assis - acesso gratuito.


Os amantes da literatura machadiana já podem ter acesso a edição número 9 da revista eletrônica Machado de Assis em Linha.

Semestral, com edições em junho e em dezembro, a publicação conta com artigos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, contemplando os múltiplos aspectos da obra do escritor, da ficção à crônica.

A edição traz texto do professor da Universidade Vanderbilt (Tennessee), Earl Fitz, sobre a recepção de Machado de Assis nos Estados Unidos, em uma tradução inédita para o português, feita por Mariana Magalhães Viana de Barros, dentre outros artigos sobre a obra e aspectos da vida do escritor.

O periódico eletrônico é hospedado no site Machado de Assis.net, lançado pela Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).

É editada pela pesquisadora Marta de Senna em conjunto com o professor da Universidade de São Paulo, Hélio de Seixas Guimarães.

A revista é uma iniciativa do grupo de pesquisa Relações intertextuais na obra de Machado de Assis, FCRB/CNPq. O acesso é gratuito.



Lei Griô valoriza a cultura oral

Lei Griô, em tramitação no congresso nacional, tem como objetivo a valorização dos mestres portadores dos saberes e fazeres da cultura oral e o fomento da transmissão desta tradição. Seu principal mecanismo é a oferta de bolsas de incentivo para os griôs, mestres da tradição oral, para que eles promovam o encontro de tais saberes com a educação formal através de encontros regulares de compartilhamento e troca de experiências de educação e cultura.

No Rio Grande do Sul, está em discussão a Lei Griô estadual, que, a exemplo da lei nacional, também pretende a valorização e a preservação dos mestres da tradição oral. Para o coordenador da Política de Pontos de Cultura da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul, João Pontes, a lei é, acima de tudo, o reconhecimento de que a tradição oral é um saber historicamente construído e que as formas de saberes populares se construíram a partir dessa dinâmica. “Trata-se de todo um conjunto de construções, signos e significados que, em muitos contextos, foram responsáveis por possibilitar formas de organização alternativas à própria perspectiva da dominação das culturas hegemônicas. Muito do que nós somos enquanto sociedade, enquanto grupos culturais, vem desse conjunto de saberes construídos e compartilhados pelos grupos populares”, afirmou o coordenador.

“Além disso, uma política pública tal a que está previsto na Lei Griô nos possibilita também um repensar sobre a perspectiva da educação formal. Vivemos uma separação institucional entre Educação e Cultura que, por um lado, reproduz uma Educação palpada numa lógica um tanto quanto positivista, uma tentativa de descolamento do contexto cultural, em que pese a Educação também ser cultural. Por outro lado, temos políticas de Cultura que não se compreendem enquanto processos educativos e pedagógicos. Nesse contexto e dentro desses objetivos que a gente discute a valorização e o reconhecimento da tradição oral”, afirmou João.

Lilian Pacheco, do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, de Lençóis, na Bahia, explica que a Lei Griô do Rio Grande do Sul é a mesma proposta em tramitação no congresso nacional, mas já estadualizada. “Isso é muito bom porque quando a lei nacional for votada, uma alimenta a outra em termos de mobilização e em termos de tramitação. A Paraíba também está dando entrada na sua Lei Griô”, contou.

Segundo Lilian, antes da Lei Griô alguns estados já contavam com a Lei dos Mestres. “Mas ela é mais restrita, nela não existe a proposta dialógica com a educação e é uma lei mais assistencial, não tem essa proposta de fortalecimento da transmissão oral”, disse ao explicar que, para a formulação da Lei Griô, foi feito um estudo das leis já existentes no Brasil e também em outros países. “A gente fundamentou a lei nessas experiências para mostrar que não é uma assistência que precisa ser feita, é preciso ser feita a inclusão social do mestre e da sua comunidade e para isso é preciso um diálogo com as organizações e instituições locais, que é o que propõe a Lei Griô”, afirmou.

O termo griô tem origem em uma figura da tradição oral africana responsável pela transmissão do conhecimento da comunidade. “Quando a gente traz esse nome como referência, como simbologia, não significa que a pessoa tenha que ser algum tipo específico de mestre, é apenas uma simbologia para que se valorize a tradição oral como foi valorizada, por exemplo, no Mali, que é de onde vem essa palavra que nós trouxemos”, explicou Lilian. “Mas o griô é o que ele é em cada comunidade, em cada tradição, ele é a figura responsável pela transmissão oral e por um saber de transmissão oral. Ele está em diversas formas de expressão e de manifestação no nosso país, um cordelista, uma mãe de santo, um tocador de zabumba, um contador de histórias, um pajé. São vários lugares socioculturais que nós temos no Brasil que são ocupados pela figura responsável por manter a sabedoria, cuidar daquela sabedoria e transmiti-la oralmente, passar de geração em geração. O conceito de griô é isso, ele é o que ele é na sua comunidade, no lugar tradicional que ele ocupa”, disse.

A Lei Griô traz também a figura do griô aprendiz, pessoa que, junto ao mestre, tem a responsabilidade de levar a transmissão da cultura oral às escolas da educação formal. “É uma pessoa da comunidade que vem de diversas áreas, da antropologia, da educação, da própria militância cultural, das artes. São pessoas de diversas áreas e linguagens que estão nessa caminhada de aprender com os griôs e mestres e ao mesmo tempo de levar isso para as escolas, de fazer essa ponte entre a tradição oral e a educação formal”, explicou Lilian.

O griô aprendiz aprende com o griô e o leva às escolas, ou leva os estudantes, junto com o educador, para conhecer a oficina do griô e sua tradição. “Isso faz a sala de aula crescer, se ampliar e ir para a comunidade, paras as festas, para a casa de farinha, até o cantador. O griô aprendiz vai construir essa didática de diálogo entre um saber e o outro”, disse Lilian.

O processo se dá através de um projeto pedagógico criado em parceria com as escolas e com a comunidade, conforme também está previsto pela Lei Griô. “Praticando essa mediação, a gente foi criando uma pedagogia, a pedagogia griô. Ela se fundamenta nas próprias práticas da tradição oral que a gente aprendeu e em algumas áreas da educação que são revolucionárias, dialógicas, como Paulo Freire, como a educação biocêntrica, a educação para as relações étnico-raciais positivas de Vanda Machado. São referências que a gente trabalha para poder criar uma base pedagógica eficiente, encantadora, mobilizadora, dialógica e que contemple a oralidade e a corporalidade, para ser coerente com as tradições”, contou Lilian.

Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/07/24/lei-grio-e-a-valorizacao-da-cultura-oral/

CONTOS DE TODOS OS CANTOS

Apresentação de contos árabes, africanos, brasileiros, europeus; utilizando diferentes técnicas de narração. Em consonância com a parte teórica haverá a experimentação, observação e registro das diferentes formas de narrar.

Com RITA NASSER:  escritora, contadora de histórias e educadora. Dedica-se à pesquisa literária e a narração de histórias para adultos e crianças desde 1996. Seus estudos estão direcionados para a Psicologia, Educação e Ensino Superior. Autora dos Livros: "Tem Trem na Linha" - Editora Mundo Mirim e "A Mágica da Flauta" - Paulinas editora.

Dia: 05 /07/2012, das 18h às 22h CH: 4 horas
Local: SIEEESP Vagas: 50
Taxa: R$ 30,00 Sind: R$ 10,00 (2ª a 5ª inscrição)

Duzentas línguas mais português: a literatura indígena nas escolas

Nossos povos indígenas constroem a escrita em suas línguas: para eles, verter a cultura oral em palavras significa representar séculos ou milênios de tradição. O resultado é muito material de qualidade que merece espaço nas salas de aula, como conta a seguir uma testemunha deste esforço, a antropóloga Betty Mindlin.

Por Betty Mindlin*
Os índios conquistaram muito espaço na literatura e no cinema nos últimos anos, em produções de alta qualidade. A tradição oral de nossos 200 povos e línguas – o número é aproximado, sempre outros são descobertos – passa agora a versões escritas, bilíngues ou em português; são de autoria indígena, ou conjunta com estudiosos. O MEC publicou a partir dos anos 1990 mais de cem livros de todos os cantos do país, resultado de programas de formação de professores indígenas, com belas ilustrações. Há escritores indígenas independentes, bastante conhecidos, que se unem em associações; surgem livros produzidos por grupos de narradores orais que não escrevem, nem falam português, mas são traduzidos pelos mais jovens. Grandes exemplos são livros bilíngues como Shenipabu Miyui – História dos antigos (autoria coletiva da Organização dos Professores Indígenas do Acre, 2ª edição revista, Editora UFMG, 2000) e Wamrêmé Za’ra – Nossa Palavra: Mito e História do Povo Xavante (Senac São Paulo, 1998). Felizmente, cada vez mais há material de qualidade para os professores brasileiros se aventurarem.

Nem sempre, porém, foi assim. Há três ou quatro décadas, quando comecei a minha experiência com índios na Amazônia, fazia-se prioritário demarcar as suas terras – as mesmas onde vivem há séculos e que ainda hoje (ou, talvez, principalmente hoje) permanecem ameaçadas por invasores e grandes interesses econômicos. Desde o primeiro contato, fiquei maravilhada ao ver como viviam e perceber o sentido que imprimiam à existência. Dediquei boa parte desses anos à defesa dos seus direitos e fui acolhida como membro das comunidades pelas quais passei, sempre cercada de afeto e generosidade.

Logo percebi que os mitos que ouvia, grandiosas narrativas povoadas pelos feitos e histórias de cada nação indígena, eram uma literatura que saía elaborada, pronta, da voz das mulheres e homens mais velhos, nascidos antes do contato pacífico com as cidades. Eram tão artísticos como a melhor literatura brasileira impressa, e eu era a única, ou a primeira, a ouvi-las. Senti-me na obrigação de compartilhar essa beleza rara com leitores; fizemos juntos, então, vários livros: eu gravava nas línguas, transcrevia e traduzia em cada língua – e a escrita era minha; hoje, os professores indígenas passam a escrever eles próprios, em suas línguas e em português.

Vozes da origem, que teve a primeira edição pela Editora Ática, em 1996 (e foi reeditado pela Record em 2006, com bonitas fotografias), é expressão desse processo. Reuni nele a tradição dos Suruí Paiter de Rondônia, que me foi contada ao longo de vários anos pelos narradores mais velhos do povo. Uma década mais tarde, a antologia Mitos indígenas (Editora Ática) trilhou o mesmo caminho, em mergulho cultural profundo pelas sagas de dez povos cujos narradores, embora não escrevam, recebem direitos autorais – e, desta forma, são legitimados como autores e senhores de suas histórias.

Penetrar no mundo indígena exige esforço por parte dos professores. Os mitos e o imaginário são um bom começo, pois as crianças não têm os mesmos preconceitos que os adultos e se deixam enredar por conteúdos inusitados como a criação do mundo, cabeças que voam e seres encantados. Além da literatura, é preciso também reunir informações sobre as condições de vida dos índios – nisto, pode ajudar um livrinho que publiquei em coautoria com Fernando Portela chamado A questão do índio (Editora Ática, 2004). Mas existem muitos outros, e sites completos, como o do ISA – Instituto Socioambiental, que indica bibliografia, mapas, nomes dos povos, população, direitos.
Recomendo também aos professores que, além de lerem todos os livros sobre o tema que lhes caiam nas mãos, vejam os magníficos filmes lançados há pouco. Destaco especialmente Xingu, de Cao Hamburger, que retoma a heroica jornada dos Irmãos Villas Bôas para preservar a vida e as terras de povos que estavam sendo expulsos e massacrados no Brasil central. Alcançaram em 1961, com muita luta, a criação do Parque Nacional do Xingu, hoje denominado Terra Indígena do Xingu. Cao transmite com maestria a beleza do mundo indígena, a imperiosa necessidade de compreender e manter a diferença de modos de vida. Assim, vibra no filme, a todo instante, o desejo intenso de justiça social: o coração dos espectadores bate disparado, na emoção de juntar-se aos índios para que a humanidade não perca o que têm a nos ensinar.
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As imagens que ilustram este post foram extraídas do DVD que acompanha o livro As Histórias do Clã Gapgir ey e o Mito do Gavião Real (Gapgir ey Xagah: Amõ Gapgir ey Iway Amõ Anar Segah ayap mi Materet ey mame Ikõr Nih), de 2011, cujas histórias foram narradas por Gakamam Paiter Suruí e outros coautores, transcritas e traduzidas pelos mais jovens de seu povo. O trabalho, produzido com o apoio de diversas entidades, teve a assessoria de Ana Suelly Cabral, linguista do LALI – Laboratório de Línguas Indígenas da UnB.

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*Betty Mindlin é economista e antropóloga. A partir do doutorado em Ciências Sociais na PUC-SP (1977-1984), começou sua longa trajetória de pesquisa e defesa das questões indígenas, que resultou na publicação, no Brasil e no exterior, de diversas antologias de mitos indígenas. No IEA – Instituto de Estudos Avançados da USP e no IAMÁ – Instituto de Antropologia e Meio Ambiente, Betty participou de projetos sobre cultura, educação e saúde dos povos indígenas. Em 2002, recebeu a medalha de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Fonte: http://blog.aticascipione.com.br/leitura-literatura/duzentas-linguas-mais-portugues-a-literatura-indigena-nas-escolas

DANÇA-LITERATURA - WORKSHOP GRATUITO

A bailarina e pesquisadora Isabel Tica Lemos (da Cia Nova Dança) realiza, nos dias 29 de maio e 6 de junho, workshop gratuito de dança-literatura, na Galeria Olido. A oficina faz parte do processo de pesquisa dirigido pela bailarina, Juanita, inspirado na obra do escritor Carlos Castañeda, feito em parceria com os artistas e bailarinos Bettina Turnner, Cristiano Bacelar e Iramaia Gongora.

Segundo a bailarina “JUANITA é uma pesquisa sobre dança e literatura baseado na livre inspiração da obra de Carlos Castañeda, comparada e associada livremente a outros autores que visitam o caminho da alma humana tais como Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Mircea Eliade, Tahir Shah, entre outros. Impossível não associar esse trabalho à trajetória/travessia mítica e real do herói humano”.

No workshop, cada participante deverá trazer um texto que queira trabalhar: conto, poesia ou um livro que tenha interesse. Haverá uma exposição de cada participante da idéia central do texto escolhido e, a partir daí, será observado se a primeira sensação é de movimento, ambiente, personagem ou imagem ou quando duas ou mais desses aspectos se apresentam. A partir de tais suscitações, a bailarina e abordará, através da improvisação, a possível transposição do texto para a experiência corporal.


Serviço:

Dias 29 de maio (terça-feira) / 06 de junho (quarta-feira)

Horário: 16h às 19h

Local: Galeria Olido | Avenida São João, 473

Sala Azul e Sala Vermelha

Público alvo: atores, estudantes e dançarinos

25 vagas


Informações: juanitasdanca@gmail.com

Novelas brasileiras passam imagem de país branco, critica escritora moçambicana

"Temos medo do Brasil." Foi com um desabafo inesperado que a romancista moçambicana Paulina Chiziane chamou a atenção do público do seminário A Literatura Africana Contemporânea, que integra a programação da 1ª Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília (DF). Ela se referia aos efeitos da presença, em Moçambique, de igrejas e templos brasileiros e de produtos culturais como as telenovelas que transmitem, na opinião dela, uma falsa imagem do país.

"Para nós, moçambicanos, a imagem do Brasil é a de um país branco ou, no máximo, mestiço. O único negro brasileiro bem-sucedido que reconhecemos como tal é o Pelé. Nas telenovelas, que são as responsáveis por definir a imagem que temos do Brasil, só vemos negros como carregadores ou como empregados domésticos. No topo [da representação social] estão os brancos. Esta é a imagem que o Brasil está vendendo ao mundo", criticou a autora, destacando que essas representações contribuem para perpetuar as desigualdades raciais e sociais existentes em seu país.

"De tanto ver nas novelas o branco mandando e o negro varrendo e carregando, o moçambicano passa a ver tal situação como aparentemente normal", sustenta Paulina, apontando para a mesma organização social em seu país.

A presença de igrejas brasileiras em território moçambicano também tem impactos negativos na cultura do país, na avaliação da escritora. "Quando uma ou várias igrejas chegam e nos dizem que nossa maneira de crer não é correta, que a melhor crença é a que elas trazem, isso significa destruir uma identidade cultural. Não há o respeito às crenças locais. Na cultura africana, um curandeiro é não apenas o médico tradicional, mas também o detentor de parte da história e da cultura popular", destacou Paulina, criticando os governos dos dois países que permitem a intervenção dessas instituições.

Primeira mulher a publicar um livro em Moçambique, Paulina procura fugir de estereótipos em sua obra, principalmente, os que limitam a mulher ao papel de dependente, incapaz de pensar por si só, condicionada a apenas servir.

"Gosto muito dos poetas de meu país, mas nunca encontrei na literatura que os homens escrevem o perfil de uma mulher inteira. É sempre a boca, as pernas, um único aspecto. Nunca a sabedoria infinita que provém das mulheres", disse Paulina, lembrando que, até a colonização européia, cabia às mulheres desempenhar a função narrativa e de transmitir o conhecimento.

"Antes do colonialismo, a arte e a literatura eram femininas. Cabia às mulheres contar as histórias e, assim, socializar as crianças. Com o sistema colonial e o emprego do sistema de educação imperial, os homens passam a aprender a escrever e a contar as histórias. Por isso mesmo, ainda hoje, em Moçambique, há poucas mulheres escritoras", disse Paulina.

"Mesmo independentes [a partir de 1975], passamos a escrever a partir da educação européia que havíamos recebido, levando os estereótipos e preconceitos que nos foram transmitidos. A sabedoria africana propriamente dita, a que é conhecida pelas mulheres, continua excluída. Isso para não dizer que mais da metade da população moçambicana não fala português e poucos são os autores que escrevem em outras línguas moçambicanas", disse Paulina.

Durante a bienal, foi relançado o livro Niketche, uma história de poligamia, de autoria da escritora moçambicana.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-04-17/novelas-brasileiras-passam-imagem-de-pais-branco-critica-escritora-mocambicana#.T43pcxldxyY.facebook

O que habitava a boca dos nossos ancestrais-coletânea bilíngue kamaiurá/língua portuguesa

Oito narrativas, tradicionalmente transmitidas de forma oral, foram registradas e traduzidas a partir do relato dos monoretajat, os “Senhores das Histórias”, e auxílio de diversos índios. As histórias são ilustradas por desenhos feitos pelos índios, e acompanhadas por uma contextualização inicial e diversas notas etnográficas, as quais aprofundam a leitura, esclarecendo ou detalhando diferentes aspectos socioculturais do povo kamaiurá.

A obra é o resultado de mais de quarenta anos de pesquisa da linguista Lucy Seki (UNICAMP), a maior especialista nas línguas Krenak e Kamaiurá, e que em 2010 foi eleita membro honorário da Linguistic Society of America (Baltimore). Trata-se de uma coletânea bilíngue (Língua Portuguesa e Kamaiurá) de narrativas míticas dos índios Kamaiurá, habitantes das margens da lagoa Ypawu, na área atualmente denominada Terra Indígena do Xingu, região nordeste do Estado Mato Grosso.

Além dos mitos, o leitor conta com um passeio histórico, um diálogo promovido com a bibliografia existente sobre o tema. A autora empreende também uma análise sobre diferentes traços da organização social, da indumentária, da caça, peça e agricultura. Aborda as características da língua e da narrativa mítica, e conta de que forma se deu a pesquisa e a organização da coletânea, seus principais desafios e dificuldades. No final do livro, há também um glossário com os principais termos kamaiurá que aparecem nos mitos.

O publicação do livro é uma iniciativa da FUNAI e do Museu do Índio, no âmbito do Programa de Documentação das Línguas Indígenas. A coordenação da equipe editorial foi realizada pela Primavera Livros.

Baixe gratuitamente aqui: http://issuu.com/primavera./docs/o_que_habitava_a_boca_de_nossos_ancestrais?mode=window&backgroundColor=%23222222

Que histórias a capoeira canta ?

Gravura de Carybé. Capoeira vinil, 1981
As Histórias que a capoeira canta e Quem vem lá, sou eu! - os capoeiras nas rodas da vida, são temas de palestras no III Festival Sul-Americano da Cultura Árabe, dia 31/03/12, sábado, às 10h, em São Paulo.

Mauricio Acuña falará sobre “As Histórias que a capoeira canta”. Reconhecida com símbolo de identidade nacional, a capoeira como a conhecemos hoje, é fruto das ações a imaginações cruzadas de capoeiristas e intelectuais. O objetivo desta palestra é compartilhar algumas das estratégias pelas quais a capoeira baiana passou a ser imaginada como símbolo da identidade brasileira por intelectuais e capoeiristas entre as décadas de 1930 e 1960. Busca-se para isso, respostas a duas principais questões: quais foram os aspectos que levaram alguns intelectuais do período a se debruçarem sobre a capoeira baiana, selecionando, para isso, certos traços, especialmente sua característica musical, na busca de interpretá-la como um símbolo de identidade regional e nacional? Como alguns dos principais capoeiristas baianos exploraram as relações e interpretações destes intelectuais e representantes do poder, confirmando ou contrariando suas idéias?

Já o “Quem vem lá, sou eu! - os capoeiras nas rodas da vida”.  Será abordado por Maurício Germano que antecipa: no Brasil, o negro feito escravo adaptou sua cultura e costumes para mantê-los vivos, dando origem a outras manifestações (samba, candomblé, capoeira...) de valores vitais para a compreensão do panorama que se formou nos séculos coloniais. Essa palestra narra como a capoeira, um "jogo de luta dançada", torna-se arma eficaz no combate à opressão, pontuando definitivamente a sua importância sociocultural.

III Festival Sul-Americano da Cultura Árabe

Realizado anualmente entre 18 e 31 de março, o Festival Sul-Americano da Cultura Árabe, promovido pela BibliASPA,  tem como objetivo refletir sobre as manifestações culturais árabes e as contribuições dos imigrantes. A intenção é fortalecer o vínculo entre a América do Sul e os Países Árabes com base no respeito à diversidade cultural e nos laços históricos, além de promover a cultura da paz por meio da aproximação dos povos.

A programação inclui atividades diversificadas tais como exposição de caligrafia árabe, de fotografia e outras expressões artísticas, mostras de cinema, palestras, debates, contação de histórias, mediação de leitura, entre outros

SERVIÇO:
Quando: 31/03, sábado, às 10h
Onde: Espaço BibliASPA – Rua Baronesa de Itu, 639 – Sta. Cecília, SP
Realização: BibliASPA
Inscrição prévia, gratuita: comunicacaobibliaspa@gmail.com (011) 3661 0904

Palestrantes

Mauricio Acuña é Bacharel (2006) e Licenciado (2010) em Ciências Sociais pela FFLCH. Mestre em Antropologia Social pela mesma instituição (2011) com estudo "Entre rodas de capoeira e círculos intelectuais: disputas pelo significado da capoeira no Brasil". Desenvolve pesquisas na fronteira entre História e Antropologia com ênfase na relação entre cultura popular, intelectuais e Pensamento Social Brasileiro. Atualmente, coordena estudo sobre aspectos socioeconômicos, culturais e históricos do Parque Perequê em Cubatão, integrando a equipe do Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo.

Maurício Germano é professor de educação física e mestre de capoeira. Atua em escolas estaduais e particulares.



III Festival Sul-Americano da Cultura Árabe, de 18 a 31 de março/12, em SP



A terceira edição do Festival Sul-Americano da Cultura Árabe – que será realizado entre 18 e 31 de março, nas cidades de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro – incluiu na programação oficial a leitura dramática encenada de Mohamed, o latoeiro”, de Gilberto Abrão. A obra, publicada pela Primavera Editorial, está sendo adaptada para o teatro pelo ator Yunes Chami. A leitura está prevista para o sábado, 31 de março, às 16 horas, no Espaço Bibliaspa (rua Baronesa de Itu, 639 - São Paulo).

De 18 a 31 de março, as cidades de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro serão “invadidas” por eventos que disseminam a diversidade da cultura árabe. O III Festival Sul-Americano da Cultura Árabe trará cinema, exposições, fotografia, colóquios, música, teatro, palestras, dança, artes plásticas, contação de histórias, caligrafia árabe e literatura com o objetivo de promover uma reflexão sobre as contribuições dos imigrantes no Brasil e fortalecer o vínculo entre a América do Sul e os países árabes. A proposta central é dar visibilidade a questões como o respeito à cultura e aos laços históricos, incentivando uma cultura de paz por meio da aproximação dos povos. No Brasil, a influência dos povos árabes é nítida – o país abriga mais de 16 milhões de árabes e descendentes, sendo que 2,5 milhões vivem em São Paulo. Os eventos acontecem em centros culturais e de pesquisa, escolas, cineclubes, universidades e associações

Como parte do encerramento do III Festival Sul-Americano da Cultura Árabe, o ator Yunes Chami fará uma leitura dramática
encenada do livro Mohamed, o latoeiro, do escritor Gilberto Abrão. Yunes – que está adaptando a obra para o teatro com o apoio da Bibliaspa – fará a apresentação em 31 de março, às 16 horas, no Espaço Bibliaspa (rua Baronesa de Itu, 639 - São Paulo).
Programação completa:

Sete unidades do SESC recebem indígenas da etnia Kariri-Xocó apresentando sua cultura através da contação de histórias tradicionais e da apresentação de rituais, como a dança do Toré.


Vila Mariana, Santo André, Bertioga, Campinas, Taubaté, Santo Amaro e Pompeia recebem a etnia Kariri-Xocó, que reúne remanescentes de alguns povos da região de Porto Real do Colégio, Alagoas.

Para expressar e evidenciar sua cultura, e, principalmente, fortalecer as políticas indígenas, os Kariri-Xocó apresentam rituais como a luta Ouricuri (praticada em um lugar exclusivo) e dançam o ritual do Toré.

Urucum, jenipapo, carvão e argila são os principais adereços para uma pintura corporal, que varia com as cores vermelho, preto, branco e amarelo. O amarelo, obtido pela argila, representa o sol, e o vermelho do urucum representa o fogo. Já o preto, extraído do jenipapo e do carvão, é usado para traçar os desenhos. Entre cocares, saias de palha, braceletes e colares, as vozes de homens e mulheres se fundem ao som de maracas e flautas, conduzindo as danças que evoluem soltas.


O que: Brincando com os Kariri-Xocó
Quando: 17 a 25/3
Onde: Diversas unidades do SESC - SP
Fonte: http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/subindex.cfm?Paramend=1&IDCategoria=7506

O ritual do Ouricuri e a dança do Toré
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kariri-xoko/680

Introdução à História da Arte Indígena

O curso pretende oferecer uma introdução à arte ameríndia através da antropologia, da história da arte e da arqueologia. As aulas terão como foco os povos da América do Sul (em especial os da Amazônia) desde o período anterior à invasão europeia até o presente. Serão abordadas expressões diversas das artes ameríndias tais como as produções cerâmicas, as pinturas, as máscaras e os adornos corporais, tendo em vista suas relações com rituais e mitologias. Orientação: Pedro de Niemeyer Cesarino: Antropólogo e professor do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Duração: 03 encontros. Oficina 3. 40 vagas. Grátis.

SESC Belenzinho
21/03 a 04/04/12.
Quartas, das 19h30 às 21h30.
http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=215297

"Ôh lelê, molibá, makasi" - Songs from the Baobab


Canções dos Baobab: Lullabies africanos e Nursery Rhymes é um CD de música storybook compilado por Chantal Grosléziat, organizado por Paul Mindy e ilustrado por Elodie Nouhen.

Este título apresenta uma compilação original de 29 músicas que abrangem 10 diferentes países, como Costa do Marfim, Ruanda e Senegal. Originário da África Central e Ocidental, essas canções de ninar rítmicos são cantadas em 11 idiomas diferentes. As canções carregam rimas suaves com uma variedade de vozes executadas por homens, mulheres e crianças. As ilustrações exuberantes e coloridos adicionar o tom harmonioso do livro de contos, enquanto a música cativa com uma qualidade melódica.

Cada canção conta uma história ou transmite um clima de diálogo entre mãe e filho. As rimas e harmonias são acompanhados por instrumentos Authenic nativas da região. As letras são cantadas em suas respectivas línguas e são traduzidas em Inglês. Cada canção é seguida por uma breve descrição da história cultural (origem) por trás da canção. As letras transmitem a qualidade nuturing e honrar as tradições da música.

Circuito de Oficinas - Contação de Histórias, através da linguagem da improvisação

O Circuito de Oficinas, projeto da Secretaria de Estado da Cultura, realizado pela SP Leituras - Associação Paulista de Bibliotecas e Leitura, tem como objetivo promover a melhoria da eficiência das equipes que atuam nas bibliotecas integrantes do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Estado de São Paulo (SisEB).

No mês de março de 2012 será realizado o Circuito de Oficinas - Contação de Histórias, através da linguagem da improvisação, com a atriz e escritora Kiara Terra. Há treze anos, Kiara criou um método revolucionário de contação, que tem a improvisação como forma de partilhar e criar histórias com o público. Em 2009, publicou o livro "A menina dos pais-crianças", pela Editora Ática.

No segundo semestre de 2012, lançará "Hocus Pocus", pela Editora Companhia das Letrinhas. A oficina de Contação de Histórias é gratuita e as vagas são limitadas. É importante preencher todos os campos solicitadas abaixo. Para mais informações, entre em contato com a equipe do SisEB, através do e-mail: oficinas@spleituras.org ou dos telefones 11 3155.5444, 11 3297.0050 e 11 3297.0060.

Ficha para efetivar a inscrição no link: http://aprendersempre.org.br/programe-se/

O prazer de contar histórias

A arte narrativa oral aperfeiçoa a comunicação e recupera a sociabilidade, estimulando o desejo de compartilhar
Fábio Fujita

A arte de contar histórias já foi vista como um mero paliativo para embalar sonhos até conquistar respeito como forma lúdica de educar as novas gerações. Nos últimos tempos, no entanto, a atividade expandiu de vez a esfera do lar, dando aos "narradores de causos" uma visibilidade crescente. É um mercado aquecido, embora os próprios contadores de história façam ressalvas quanto a eventuais distorções que são verificadas no desempenho da "profissão".

Em geral, são educadores e egressos das artes cênicas - ou uma combinação de ambos - os que se dedicam a fazer das narrativas orais o seu ganha-pão, e o interesse sobre elas talvez esteja no fato de que, para uma história ser contada, pressupõe-se a existência de um público. Ou seja: promove-se necessariamente um encontro social.

- As pessoas estão buscando o contato dos olhos, o tom da voz. É um "tocar no outro", um "chegar perto", uma confraternização. Isso foi se perdendo com o ritmo da vida moderna. A contação de histórias propõe isso: "Vem aqui para perto, que a gente vai compartilhar esse conto" - avalia Karina Giannecchini, que há mais de uma década dedica-se à atividade.
Democracia
Para outro contador de longa trajetória, Giuliano Tierno, a narrativa oral traz um sentido de "democracia cultural" na medida em que uma pessoa não instruída pode desenvolver a habilidade de narrar como compensação para o analfabetismo.

- Depois que a gente sai das onomatopeias, das primeiras interjeições, a gente vai para a palavra falada. Ela é emergente, urgente, imediata, resolve questões práticas do cotidiano e ajuda a gente a se organizar - acrescenta.

Alimentar o imaginário é, no entendimento de Giuliano, uma forma de organização. Giuliano cita a avó, que era analfabeta, mas que fingia ler notícias de jornal para ele quando menino.
- Havia uma violência naquilo. Era muito violento ela não saber ler, então ela queria colocar alguma coisa no lugar, acho.


Em cursoKarina, por sua vez, entende que o contador de histórias carrega uma responsabilidade grande na própria performance, referindo-se não tanto ao texto que está sendo contado, mas à articulação do discurso.
- O caipira repete aquilo que escuta. Às vezes não sabe ler, mas como não tem uma definição daquilo que estão falando para ele, ele reproduz errado - teoriza.
Por isso, acredita Karina, a boa articulação pode contribuir para o aprendizado da língua por meio da memória auditiva.
Para a maioria dos que atuam profissionalmente no segmento há a premissa de que qualquer um pode se tornar um contador de histórias. Em São Paulo, um dos cursos mais conceituados, e procurados, é ministrado por Giba Pedroza, um contador "das antigas", que atua há 25 anos. Para cada turma, cerca de 30 alunos são selecionados a partir de uma triagem com quase 300 inscrições.
Giba, no entanto, refuta a ideia de que o curso ofereça fórmulas definitivas na formação de um narrador. Usa o termo "laboratório intuitivo" para definir sua proposta, em que os alunos são estimulados a trabalhar a própria memória afetiva: estaria nas jornadas pessoais a matéria-prima a fazer emergir o contador que há em cada um.
- Por que o GPS faz tanto sucesso? - questionava ele uma de suas turmas numa das aulas no final de novembro.
E respondeu:
- Porque as pessoas não admitem perder-se, ter de perguntar a alguém. Elas querem caminhos prontos.
Giba é um contador de histórias que não usa nenhum tipo de recurso que não a voz e as eventuais variações de entonação necessárias a cada relato. Em aula, conta aos alunos sobre uma apresentação que testemunhara, em que a contadora usaria um espanador para representar uma princesa. Na hora de trazer o objeto à cena, no entanto, ela o procurou na sacola onde deveria estar e não o achou. Aquele instante de hesitação da narradora foi suficiente para fazer com que parte do público se dispersasse e debandasse.
Giba não é contra o uso de elementos cênicos. Respeita o estilo de cada contador. Apenas faz a ressalva:
- O recurso ilustrativo tem de estar a serviço da história, não pode ser refém dela.
Compreensão
Para confirmar o que dizia, ele levou àquela aula como convidada Kelly Orasi, uma contadora de histórias egressa do teatro de bonecos e que, portanto, se utiliza de objetos em performances. Kelly apresentou aos alunos um conto dos irmãos Grimm, As Três Penas, sobre uma trinca de irmãos-príncipes que disputa a herança da coroa real paterna. Para representar cada irmão, Kelly usou carretéis de linha em cores diferentes e, em muitos momentos, a simples movimentação dos carretéis era suficiente para a compreensão da trama.

- Essa história pedia o uso de objetos - reconheceu Giba, com a concordância de todos.
Karina Giannecchini também é uma contadora de histórias que faz uso de recursos cênicos em suas contações. Durante quatro encontros em novembro, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, protagonizou ao lado de Felipe Pereira a série Quatro Estações, que tinha como proposta falar sobre o desenvolvimento cultural da capital paulista entre os anos 1930 e 2000. No primeiro "episódio", a dupla simulava um programa de rádio do início do século 20, vestidos "a rigor". Apresentavam o noticiário e faziam leitura de crônicas, além de decorarem o local da apresentação com materiais de época - revistas, livros, fotografias.

Mas Karina não considera que tais recursos sejam imprescindíveis.
- Uso porque é o meu estilo, é como eu sei fazer. Não acho que a contação tenha de ter esses balangandãs todos - ressalva.

Quatro Estações, com Karina Giannechini e Felipe Pereira, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo: simulação de um programa de rádio do início do século 20

PaixãoPara ela, a essência de uma boa contação não tem segredo: está no quanto o narrador tem paixão pelo assunto sobre o qual quer falar. Karina, que é de família italiana, acha que o entusiasmo de uma "mama" ao contar que usou açafrão num molho é o que dá o colorido a algo banal do cotidiano, como um almoço de domingo.

- O contador de histórias é um sujeito apaixonado. Quando ele quer dividir com você aquela história que é só dele, passa a ser sua também naquele momento.

Era em vista desse aspecto que Giba alertava seus alunos sobre a ansiedade deles frente à iminência de apresentar o "trabalho de conclusão de curso" que, claro, seria uma contação.

- Não pode ser torturante, tem de ser prazeroso - minimizava o professor, lembrando que é comum a sensação de não se sentir pronto para se apresentar como contador diante de uma plateia - mas que uma pessoa só está efetivamente pronta no próprio ato de contar.

Giuliano Tierno acrescenta que passar por alguma oficina de estrutura narrativa, ou de articulação e modulação de voz, pode ajudar, é evidente. Mas não transforma ninguém num contador de histórias. Considera a leitura, e a consequente formação de repertório, muito mais importante.
- E observar cenas do cotidiano, as imagens, lidar com o esquisito, o não nominável: o narrador tem de estar muito atento a isso. Essa é a verdadeira técnica para mim.
Adaptar um livro numa versão a ser performatizada por um contador de histórias passa, naturalmente, por um processo de síntese e adequação entre a forma lida e falada. Mas Giba Pedroza lembra que há fontes e fontes. Se é Machado de Assis, como adaptou certa vez, "não vou mudar uma vírgula". Cita também um texto de Marina Colasanti, cujo desfecho diz: "...o homem, que agora tinha rosto e nome, sorria como um sol". Giba explica:
- Tenho de falar isso, não posso substituir por "ele estava feliz, irradiante de alegria", senão vou matar toda a poesia do texto que ela criou - diz ele.

InterpretaçãoKelly Orasi vai na perspectiva inversa, citando um trecho de Monteiro Lobato, que fala de "baratinhas de mantilhas e miosótis nos cabelos". Num caso desses, é preciso decodificar a linguagem para evitar o que ela chama de "buraco negro" na compreensão da história por parte da criança.
Contos clássicos consolidados na tradição oral tendem a ser mais passíveis de ser "reapropriados" ou revistos por quem conta.
- Conto e tanto reconto o mesmo conto, que acabo inventando um outro conto - alitera Giba.
Tierno diz preferir justamente as "histórias que já passaram por muitas psiques, que a humanidade já decantou bastante". Considera que estão nelas as experiências humanas mais fundas e, somadas à voz do contador (que carrega as marcas da alma e do corpo, diz), resultam em contações mais vivas, na visão dele. Cita como exemplo uma história recorrente em seu repertório: O Gigante Egoísta, de Oscar Wilde.
- É uma história que foi se modificando em mim, conforme eu conto. Não sei mais se é dele. Ainda o cito, porque não quero ser ladrão [da autoria], mas a história foi se decantando e se transformando - justifica.

Valdir Cimino, da Associação Viva e Deixe Viver: narrar humaniza o ouvinte
Atração
Os alunos de Giba Pedroza não são necessariamente pessoas que ambicionam viver da contação de histórias como profissão. Muitos se matriculam por acreditar que os fundamentos da atividade podem ser úteis em suas respectivas carreiras. É o caso do médico ortopedista Flavio Jorge, que garante ter chegado a um ponto em que começou a sentir certo cansaço para explicar a uma pessoa o porquê de ela ter ficado doente. É preciso habilidade para minimizar as histórias de terror intrínsecas à medicina, avalia. Ele cita um paciente que o procurou com uma dor no joelho que parecia inofensiva.
- Eu o entreguei para a família no caixão em seis meses - lamenta.

Era um caso de leucemia. O publicitário Valdir Cimino, que desenvolveu um trabalho de contação de histórias para crianças hospitalizadas por meio da Associação Viva e Deixe Viver, endossa o que diz Flavio: a realidade hospitalar demanda cuidados específicos e contar histórias se revela uma via de humanização em tal contexto. Certa vez, Valdir testemunhou o caso de um médico que disse à mãe de uma criança internada: "A sua filha tem apenas uma cefaleia". E deixou o quarto, sem se estender no assunto. A mãe se desesperou: o que seria uma cefaleia?

Em 1992, quando morou em Nova York, Cimino atuou com voluntariado num hospital. Sua função era fazer a leitura de jornais e livros para uma pessoa que perdera a visão por causa do câncer.
- Passei a ser os olhos dela - diz.
Quando retornou ao Brasil, começou a atuar no Hospital Emilio Ribas. Percebeu que, de cada dez crianças, apenas uma se interessava por leitura - as outras nove preferiam assistir ao Programa do Ratinho na TV. Foi assim que começou a oferecer a contação de histórias.
- Livro é importante mesmo que ele não seja desejado num primeiro momento - afirma.
Treinamento

Logo, a equipe contava com sete voluntários. A oitava, uma senhora que se oferecera para integrar o grupo, desmontou aos prantos no primeiro contato que teve com uma criança em estado grave. A partir daí, Cimino se deu conta de que nem todo mundo estava preparado para aquilo. Idealizou, então, um treinamento de seus voluntários, influenciado pelo que conhecera no hospital de Nova York, focando questões como bioética, psicologia e outras áreas ligadas ao universo dos enfermos.
Esse processo de formação do voluntário se estende por quase um ano. São 1,2 mil voluntários, presentes em 80 hospitais de São Paulo e de algumas outras capitais.

Acompanhei uma visita de voluntárias da Associação ao Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Uma delas, a bibliotecária Vilma Cezar, dirigiu-se ao leito de dois gêmeos de cinco meses. Abriu um livro com grandes ilustrações, e os bebês miraram aquilo com olhos vidrados, embalados pela descrição das figuras feita por Vilma.

Outra voluntária é a atriz Alexsandra Mauro, que faz o estilo divertido, com elementos de clown. Apresentou um conto de Ruth Rocha para um garoto de 11 anos e uma garota de sete.
- Só contando história mesmo para fazer essa menina parar - comentou, de passagem, uma enfermeira que por ali circulava.

Antes de entrarmos no setor de diálise, Alexsandra explicou que havia ali duas crianças muito carentes. Assim que a viram, a voluntária foi recebida com histeria: "a Tia Doida chegou! Tia Doida! Tia Doida!". Um garotinho mirrado de 12 anos reconheceu o avental das voluntárias e pediu a Vilma uma história.

Embasado por pesquisas, Cimino assevera que a experiência extrapola o aspecto recreativo, gerando ganhos clínicos para a criança enferma, como maior disposição para a alimentação (60%), melhora no estado emocional (66%) e diminuição das queixas de dor (75%). Cimino cita até casos de crianças com tentativa de suicídio que, ao longo de dois anos, se submeteram às atividades dos contadores.
- Cinco delas receberam alta - comemora.

Voluntária da Associação Viva e Deixe Viver apresenta livro a crianças internadas: melhora na qualidade de vida comprovada por pesquisas

PeriferiaEntre 2004 e 2008, Kelly Orasi atuou numa ONG em Paraisópolis, periferia paulistana, desenvolvendo um trabalho de narração de histórias para crianças de seis a 12 anos. A iniciativa, mais do que focar o incentivo à leitura, tinha o pressuposto de contribuir na formação de valores: as crianças trabalhavam o desembaraço e a expressão para melhorar a autoestima. Levavam um livro por semana para casa e, no encontro seguinte, podiam contar a história lida aos colegas.

A contação de histórias não é, necessariamente, uma atividade só para os pequenos. Karina Giannecchini montou com dois colegas, em abril de 2010, o projeto Prosa Afiada, voltado para adultos, nas programações do Sesc. Na primeira edição, apresentou textos de Ignácio de Loyola Brandão e Andréa del Fuego, entre outros. Na segunda, a escolha recaiu sobre a Antologia Poética, de Vinicius de Moraes. Para adultos, a terminologia é que muitas vezes muda: o próprio Prosa Afiada se apresenta como "literatura dramática"; Quatro Estações foi divulgado como "série de encontros dramatizados". Mas, no fundo, é tudo contação.

A associação da atividade ao público infantil passa, segundo Tierno (que só faz contação para adultos) por uma questão de mercado. Ele lembra que, a partir dos anos 80, a criança passou a ser um campo de consumo muito forte, o que aqueceu o circuito do teatro infantil, que, agora, tem perdido terreno para a contação, por demandar uma produção mais econômica.

Ascensão
Há alguns anos, o jornal Folha de S.Paulo publicou uma reportagem ressaltando o contador de histórias como carreira em ascensão. Giba Pedroza, um dos entrevistados, cansou de receber ligações de gente que queria aprender o ofício visando supostas gordas remunerações.

- Uma mulher, que se dizia atriz, disse que não gostava nem de ler, nem de criança, mas que contaria história em festa infantil para juntar dinheiro e montar seu espetáculo - horroriza-se Giba.
Giuliano Tierno coordena uma pós-gradução lato sensu em contação de histórias, pioneira, que tem a proposta de desconstruir a estereotipia criada em cima da atividade.

- Muitos contratantes só valorizam a palavra espetacularizada. Precisamos criar uma dissonância reflexiva acerca desse movimento que vai esvaziando a palavra - analisa.
Para ele, o fenômeno do stand up comedy, que parece se beneficiar da explosão do setor, pouco tem a ver com a arte narrativa.

- Ele reforça aquilo que a gente já pensa. Falar mal da política? Já penso isso. A história pode ir para outro lugar. Pode me dar algo que eu não conhecia - diz, para esmiuçar a diferença.
Contar uma história pode ser apenas isso, defendem os amantes da arte da narrativa oral: a abertura para um caminho que deve ser cruzado não tanto pela necessidade de chegar, mas pelo prazer de curtir a paisagem.
Confira

Curso básico de formação de contadores de históriasCoordenação: Giba Pedroza, Tatuapé, São Paulo (SP)
Informações: (11) 3871-1197Prosa Afiada
Coordenação: Karina Giannecchini, unidades do Sesc-SP
Informações: prosaafiada.com.br

Pós-Graduação A arte de contar histórias
Coordenação: Giuliano Tierno, Vila Clementino, São Paulo (SP)
Informações: contarhistorias-pos.blogspot.com

Associação Viva e Deixe Viver
Coordenação: Valdir Cimino, Pinheiros, São Paulo (SP)
Informações: (11) 3081-6343

Fonte: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12489