Lançamento do livro e da exposição “CONDE”

Conde marcou os bairros do Jd.João 23, Jd.Uirapuru, Jd.Arpoador e Cohab Educandário, onde cresceu órfão de pai e de mãe e espraiou por vielas e ladeiras a boniteza e o ardido dos seus quadros, murais e esculturas. Pintor e ativista, foi fundador da Associação dos Artistas e Artesãos do Jardim Arpoador e fez dos barracos onde morou ateliês abertos, onde recebia a juventude pra tintar, musicar e modelar.
Suas dezenas de quadros e grafites cavucaram o imaginário, as estripulias, sanhas e senhas do povo preto e favelado, além de salientar a presença das culturas indígenas, entre a tragédia e a ternura, mesclando realismo e fantasia nas suas figuras, retratos e viagens.
Recolher a obra de Conde, em livro, pretende rasgar e adoçar caminhos pra que a obra desse mano chegue ao povo, aos museus, catálogos, bibliotecas, escolas e ganhe realce dentro das linhagens das artes plásticas negras brasileiras.
O livro traz escritos alguns poemas e reflexões do artista, mais textos de JPR (que enfatiza a passagem de Conde pelas quebradas da zona oeste e cita influências cotidianas e ancestrais da sua obra) e de Marcelo D´Salete ( que, como artista plástico e estudioso, detalha elementos da originalidade do trabalho de Conde)
O lançamento do livro e da exposição de quadros, conta também com a magnética e retumbante música e dança do BALLET AFRO KOTEBAN (que pesquisa seriamente, ressoa e balança nas tradições da Guiné), os versos de Akins Kinte e Allan da Rosa, o acordeon de Aline Reis, as fotografias de Guma e a exposição dos instrumentos percussivos, artesanais, confeccionados pelo Ateliê Ilu Mina.
É SÓ CHEGAR
SÁBADO, 09 DE AGOSTO, DAS 18HS ÀS 21H30
NA CASA DE CULTURA DO BUTANTÃ – Av. Junta Mizumoto, 13 – Jd.Peri Peri – 3742-6218

Pra quem vem do Taboão/Embu/Capão/Campo Limpo: Pegar, a partir do Largo do Taboão, da Avenida Campo Limpo ou da BR 116, a Avenida Eliseu de Almeida até o número 2.500, virar à esquerda na Rua Iauaretê. Chega de frente à Casa de Cultura do Butantã.
Pra quem vem da Zona Norte, Leste, Centro ou outras bandas da Sul: Qualquer ônibus que pegue a Rebouças e passe na Avenida Francisco Morato, onde deve se desembarcar na altura do n° 3.365 e entrar na Rua Cânio Rizzo, atravessar a Avenida Eliseu de Almeida e chegar na Rua Iauaretê.

Pra quem vem da rodovia Raposo Tavares, do Jardim João 23, Arpoador, Uirapuru e Educandário: Pegar qualquer ônibus sentido centro e descer no Peri Peri, na altura do corpo de Bombeiros e do Posto de Saúde, virar na Avenida Laudo Ferreira de Camargo e caminhar até à travessa da Avenida Junta Mizumoto.

Encontro com Abbul

Está agendado para o dia 16/08/08, às 14h30, o encontro com Abbul, um religioso de Gana que desenvolve trabalhos de acompanhamento e cura espiritual com base nas tradições africanas (amigo de Anicett).

Local: ONG Papel Jornal
Endereço: Rua Roberto Selmi Dei, 187

Estudantes estaduais terão acesso à cultura


1 milhão de estudantes estaduais
terão acesso a museus, teatros e filmes

Secretaria de Estado da Educação fecha parcerias
para lançar maior programa do Brasil para estudantes

A Secretaria de Estado da Educação inicia neste segundo semestre o maior programa do Brasil para levar cultura a estudantes. É o chamado Cultura é Currículo, que já de início tem objetivo de atingir cerca de 1 milhão de alunos, com visitas a instituições culturais, projeção de filmes e comparecimento a teatros. A expectativa da pasta é ampliar este número a cada nova fase.

O programa foi lançado nesta quinta-feira, 24 de julho, pelo governador José Serra e pela secretária de Estado da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro. Dividido em três projetos – instituições culturais, especialmente museus (Lugares de aprender: Escola Sai da Escola), teatros (Escola em Cena) e cinema (Cinema Vai à Escola) -, o Cultura é Currículo proporcionará aos estudantes experiências inesquecíveis.

Para o Escola Sai da Escola (museus e parques, entre outros), a Secretaria fechou, até agora, parceria com 26 instituições culturais. Em 2008 atingirá as escolas da capital, passando em 2009 para a Grande São Paulo e interior. Os alunos irão visitá-las rotineiramente, sempre com acompanhamento de professores. Estes, por sinal, receberão materiais específicos para preparar as visitas e para discuti-las depois. Todos as informações estão inseridas no currículo da rede.

Ainda para reforçar o conteúdo a ser aprendido nas instituições culturais, a Secretaria, em parceria com a TV Cultura, produziu 26 vídeos (um para cada instituição), para que os alunos se interessem pela visita e guardem as lembranças. Os vídeos são modernos e mostram histórias interessantes como chamariz aos alunos. Já neste mês entraram também na programação da TV Cultura, como divulgação dos “pontos turísticos” paulistas.

Para a área de cinema, denominada Cinema Vai à Escola, a Secretaria fechou a compra de 20 filmes (veja lista abaixo) em DVD, entre contemporâneos e antigos. Todas escolas de Ensino Médio do Estado receberão os DVDs e materiais de apoio pedagógico como “Cadernos de Cinema do Professor” e o vídeo “Luz, Câmera... Educação”, para auxílio aos professores antes, durante e depois das sessões. Os temas prioritários dos filmes são: Ética e Cidadania, Meio Ambiente, Sexualidade, Drogas, Violência e Preconceito. O critério para seleção levou em conta os vários países onde há produção cultural e as diferentes escolas cinematográficas. Os alunos assistirão a documentários, filmes de ficção, comédia, drama e suspense, que não tenham sido exaustivamente exibidos pela televisão.

Já para teatro, com o Escola em Cena, a Secretaria, em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura, quer proporcionar aos alunos do Ensino Médio e de escolas em tempo integral experiências de freqüentar espetáculos de teatro e dança articuladas ao desenvolvimento de conteúdos de Arte e outras disciplinas. A intenção é integrar alunos e professores em espetáculos teatrais e de dança. Trinta mil alunos devem participar do Projeto em 2008.

“O Cultura é Currículo irá proporcionar aos estudantes um ciclo de novas aprendizagens. Desta forma, a formação dos alunos não ficará restrita à sala de aula. Terão um novo horizonte”, afirma a secretária Maria Helena Guimarães de Castro. “Foram produzidos materiais de apoio para todas as atividades previstas, como guias, vídeos e um portal na internet que convida os professores a participar destas ações”.

Instituições de cultura parceiras

Zoológico de São Paulo
Instituto Butantan
Viveiro Manequinho Lopes – Ibirapuera
Planetário – Ibirapuera
Museu Paulista
Monumento à Independência
Memorial do Imigrante
Casa do Bandeirante
Museu dos Transportes Públicos Gaetano Ferolla
Museu Afro Brasil
Memorial da América Latina
Fundação Cultural Emma Gordon Klabin
Museu de Arte Sacra de São Paulo
Palácio dos Bandeirantes
Museu da Casa Brasileira – MCB
Museu Brasileiro de Escultura – MUBE

Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB
Museu de Arte Moderna – MAM
Museu Lasar Segall – MLS
Estação Pinacoteca
21.Instituto Moreira Salles – IMS

Museu da Língua Portuguesa
Pinacoteca do Estado/Parque da Luz
Centro Universitário Maria Antonia – CEUMA
Instituto Tomie Ohtake
Paço das Artes

Filmes – cinema

•Diários de Motocicleta

•Final Fantasy

•Billy Elliot

•O Pagador de Promessas

•A Cor do Paraíso

•Cinema, Aspirinas e Urubus

•Putz, a Coisa Tá Feia

•A Rosa Púrpura do Cairo

•Crash, no Limite

•Terra de Ninguém

•O Planeta Branco

•Língua, Vidas em Português

•Crianças Invisíveis

•Bendito Fruto

•Vida de Menina

•Arquitetura da Destruição

•Frankenstein

•Narradores de Javé

•O Fim e o Princípio

•Luzes da Cidade

Meio Ambiente, Danças Étnicas Árabes e as Mulheres Beduínas


"Eu só poderia acreditar num Deus que soubesse dançar!"

F. Nietzsche
Por Amyra El Khalili*

A Raks el Chark* foi popularmente denominada no Brasil como "Dança do Ventre" por consequência dos movimentos de dobradura da moeda no abdômen, imagem que impressionou os latinos americanos e foi denominada pelos franceses com muito mais distinção como Belly Danse**. A "Dança do Leste" , ou "Dança Oriental" desenvolveu-se no Brasil muito diferente das autênticas técnicas orientais, misturando samba, bolero, ballet e até lambada, sem a necessária base técnica. Algumas dançarinas mal orientadas chegam a confundir músicas folclóricas e religiosas com músicas de dança, o que para os eufóricos leigos tudo é lindo.

Leva-se em média quinze anos para formar uma dançarina profissional no Oriente Médio. É um dança milenar, registrada entorno de 5.000 a.c., desde o reino da antiga Mesopotâmia, com cerca de 3.000 movimentos possíveis de serem executados pelo corpo humano. Sua base histórica se origina das danças beduínas em rituais de homenagem ao ecossistemas nos quais habitavam os povos nômades. Essa história começa entorno de 11.000 a.C., em Jericó-Palestina, quando as beduínas passaram a desenvolver a agricultura.

Elas*** observavam com atenção os répteis que subiam os rios de águas doces, e com eles, traziam as chuvas que, por sua vez, levavam às margens dos rios o húmus. Observando que nestas margens crescia o trigo, passaram a manejá-los para outras áreas, juntando o húmus, semeando sempre que os répteis – jacarés e crocodilos - subiam em cardumes os rios Jordão e Nilo - noutras regiões, o Tigre e Eufrates.


As beduínas com seus companheiros começaram então a desenvolver a agricultura e tinham estes répteis como deuses que traziam a mensagem de quando poderiam realizar o manejo do trigo em função das cheias dos rios. Neste período, também desenvolveram a armazenagem do trigo por longos períodos de seca, posteriormente o ocidente adotou este sistema - são os silos graneleiros de hoje - e esta preocupação passou a ser conceituada por "segurança alimentar".

A fertilidade é de Gaya (Mãe Terra)!

Seriam os sete anos de vacas gordas e magras, uma preocupação – já antiga – com a segurança alimentar?

As beduínas podiam, a partir da armazenagem do trigo, proporcionada pelo período de semeadura e colheita, realizar o planejamento familiar, assim sendo, neste período, decidiam ter seus filhos, porque garantiam alimento necessário pelos cinco primeiros anos de vida de suas crianças. A decisão da gravidez, de ordem exclusivamente feminina, compartilhada pelo companheiro em todo ritual de semeadura, plantio direto e colheita, estava intimamente ligada aos ciclos hidrológicos. Água, um bem sagrado que fertiliza a terra, e permite que as mulheres decidam sobre sua fertilidade - dando-lhes a opção de terem quantos filhos a terra poderia alimentar. Água, o sêmen de Alláh!

As beduínas agradecidas dançavam a beira dos rios de águas doces enquanto realizavam o manejo do trigo - e cantavam para os deuses. A prosperidade do casal beduíno e de toda a tribo estava determinada pelos ciclos hidrológicos - bem como o equilíbrio entre riquezas naturais e seres humanos.

O que ocorreu então com o passar dos séculos na história da humanidade?

As mulheres perderam a sua relação íntima com os ciclos hidrológicos e conseqüentemente, entre tantas outros fatores, ocorreu o desequilíbrio entre riquezas naturais e seres humanos - hoje: recursos naturais de menos e gente demais.

As danças beduínas aplicadas na oficina "Dança pela Água em Missão de Paz" objetivam resgatar a memória ancestral que todas as mulheres possuem das suas relações com o ciclo hidrológico, através dos movimentos executados pelas beduínas quando agradeciam aos Deuses pelo presente que lhes traziam de bons ventos, boas águas e boas colheitas.

Estas mulheres construíram mundos riquíssimos como o dos faraós, a matemática, agricultura, a astrologia, a medicina, o turismo, enfim os valores culturais que são os pilares do ocidente - e o fizeram ao lado dos seus companheiros - peregrinando pelo mundo árabe, na áfrica, no leste europeu e na Ásia.

A verdadeira essência desta dança navega por outros mares, é para a mulher madura, a mulher completa que viveu todas as alegrias e frustrações do amor, transformando todas as experiências da vida afetiva em movimentos, só possíveis com a explosão de sentimentos honestos e sinceros, sentimentos plenamente cantados e visíveis aos olhos do povo de sua origem: o árabe.

Dança, Identidade e Guerra

São necessários muitos anos de audição para captar as constantes alterações rítmicas das músicas orientais, apurado senso do significado do que se está dançando e uma boa dose de conhecimento do que representam os sofrimentos das guerras e os preconceitos na vida do povo árabe****.

Essencialmente feminina essas danças podem ser acompanhadas por homens, com movimentos masculinos, destacando-se o tórax, ombros e braços. A dançarina deve ser soberana, elegante, manter postura antes, durante e depois da apresentação. Ter simpatia, charme e principalmente muita humildade.

Quanto mais experiente for a dançarina mais sucesso faz. A cultura árabe respeita a mulher madura, a exalta e admira, não discrimina a mulher de idade, tem preferência pela mais cheinha, do tipo gostosa, matreira e vaidosa. Em casas noturnas, restaurantes e festas árabes é muito comum homens convidarem as mulheres para dançá-las, é o desafio do homem em provocar a sensualidade da mulher. Um jeito árabe de paquera (flerte), uma vez que os costumes e valores morais da cultura são extremamente rígidos.

O povo árabe é totalmente contra os padrões estéticos do Ocidente, que impõe a mulher ser jovem e magra, tornando a maioria delas infelizes, isto sim é submissão. Os valores espirituais da cultura abominam a vulgaridade, considerando-a ofensiva, enaltece a auto-estima feminina, exalta a virilidade masculina, através de suas músicas e danças com muita sensualidade.


No Brasil em 1979, as danças étnicas árabes foram introduzidas pela mestra palestina Shahrazad Shahid Sharkid iniciando-se assim um trabalho único no mundo através da Raks el Chark. A meta de seu trabalho era a pesquisa e o estudo minucioso do corpo feminino através do registro das mutações ocorridas apartir da aplicação e execução de exercícios de sua elaboração. Havia também no trabalho de Shahrazad uma enorme preocupação com a formação de crianças e adolescentes para dança do ventre, procurando não confundir o trabalho corporal adulto com o infantil, respeitando-se seus espaços e suas mentes cronologicamente viabilizando a aplicação de exercícios de fisioterapia, com o cuidado de não agredir o universo infantil pelo estímulo prematuro para a vida afetiva e sexual.



Estas mutações são parte do infinito trabalho de anatomista da mestra artesã, uma escultora de corpos, sempre com a preocupação de não preterir determinadas partes do corpo, o que normalmente acontece com algumas danças ocidentais, onde para adquirir a desenvoltura exigida é necessário tornar cartesiano o corpo feminino, colocando-o em uma moldura onde todas são iguais.


Toda dança tem, evidentemente, o cunho sagrado, apesar do ocidente frequentemente utilizá-las erroneamente e propositadamente para vender sexo, padrões estéticos e para exploração do corpo da mulher e infantil, profanando os arquétipos religiosos. O homem sempre desejou aquilo que era de Deus e tenta adquirir, através do manto da "commoditização erotizada", tudo aquilo que não consegue obter pela conquista da espiritualização.


Danças Folclóricas e de Raízes

As "Danças Folclóricas e de Raízes" possuem um poder indiscutível de aglutinação, pois constituem a manifestação do comportamento cultural, histórico e social dos indivíduos. Refletem em sua construção coreográfica a soberania, o direito, a dignidade de vida dos povos das mais diferentes etnias, cores e credos, além de contribuir diretamente na socialização e educação de crianças e adolescentes principalmente pelo prazer que proporcionam. Resgata e eleva a auto-estima. Portanto, devemos ter muito respeito por estas manifestações que são verdadeiros alicerces para o desenvolvimento da consciência sócio-ambiental para comunidades, destacando-se a importância de trabalhos em grupos, aparelhando-as com estes importantes instrumentos necessários para a formação do caráter cultural e intelectual, e apurando o senso crítico pela observação e audição.


No artigo do semanário Al-Ahram, o coreógrafo Omar Barghouti discuste o significado da cultura e educação na preservação da identidade nacional e o espírito humano ao mesmo tempo. A criatividade e aprendizado são vitais ao projeto de sobrevivência, argumenta Barghouti, descrevendo como, mesmo sob o cessa fogo, o povo da sua vizinhança de Ramallah precisa de livros, música e jogos; e mesmo nos campos de refugiados, os pais cujas vidas e posses foram dizimadas estão preocupados em restaurar as escolas para seus filhos. Mesmo com esta cidade ocupada e destruída, Omar Barghouti mantém sua atuação na dança.


Barghouti põe esses valores num contexto histórico – os palestinos que foram forçados a fugir de suas casas em 1948 são assombrados por seu fracasso em resistir, ele diz. Ele explica que esse fracasso é atribuído à "consciência limitada" do tempo "a qual nesse contexto entende-se como uma combinação de ignorância, analfabetismo, falta de aptidões essenciais, como também a falta de um sentido claro de identidade. Portanto, cultivar uma tradição de educação e a prática da cultura é a chave para a sobrevivência dos palestinos como um povo: "os palestinos não podem se dar ao luxo de não fazer parte da reabilitação cultural na sua batalha ampla de reconstrução e luta pela emancipação," ele escreve. Neste ensaio comovente, Barghouti nos supre com a imagem da dança como um símbolo da sobrevivência e renovação palestina.


Nossa história sobre as danças étnicas árabes é muito mais longa, mas deixo esta contribuição para a reflexão e conto com todos para acompanharem este resgate da memória ancestral em busca da equidade social, dos valores comunitários e coletivos e, da importância de se construir uma economia justa e equilibrada como foi a dos nossos antepassados, quando a felicidade era pautada por uma "segurança alimentar" ordenada e coordenada pelas forças da natureza - com seus ciclos hidrológicos. Ao cultuar a sensualidade como uma dádiva de Deus e exorcizar o erótico profanado e degradador da natureza humana.

Num tempo em que o ser humano fazia parte do meio ambiente, e não o partia ao meio!

NOTA:

*Raks = dança Charq = leste, oriente. Charqi = oriental , portanto, Raqsa Ach-Charq (ou Ash-Sharq) é Dança do Oriente, Dança do Leste; Raqsa Charqyi = Dança Oriental. Raqsa Ash-Sharq é a pronuncia correta sendo Raqsa Al Sharq, para os egípcios e Raqsa Charkyi para os libaneses. Consulta Carlos Tebecherani Haddad - professor e pesquisador do idioma árabe da Universidade Católica de Santos.

** Belly Danse em francês = bela dança e Belly Dance em inglês = dança do ventre.

***São consideradas semitas todas as tribos beduínas, incluindo-se a etnia hebraica, cuja religião é o judaísmo. Com a migração destas tribos nômades entre outras que se miscigenaram, originam-se os ciganos do ocidente – e com a perseguição dos hebreus no Oriente Médio, advém a expressão "judeu errante", ou seja, refere-se aos judeus que partem em busca de uma terra, uma nação. (Lactho Drom – Michele Ray-Gravas. La Musique des tsiganes du monde de l’inde a l ‘espagne)

****O histórico das tribos beduínas está registrado através da cultura oral. Encontram-se estas narrativas em suas músicas, nas danças, nos contos que passam de pais para filhos, nos livros sagrados como O Alcorão, escrituras Baha’i, na Bíblia, no Talmut etc.. também nos poemas de Rumi, Gibran Kalil Gibran, entre outros poetas árabes e persas. Os cantos beduínos enaltecem o meio ambiente e a mulher, relatam o amor do povo nômade pelos ecossistemas desérticos, suas paixões. A cantora Om Kalthoun expressou com toda essência de sua belíssima voz a história desses povos que encantam o mundo por sua passividade, benevolência e profunda sabedoria milenar. Om Kalthoun morreu cultuada como a "Mãe do Egito". Uma feminista amada e respeitada. Jamais conseguiram fazer-lhe calar a voz!

Dança, Identidade e Guerra


São necessários muitos anos de audição para captar as constantes alterações rítmicas das músicas orientais, apurado senso do significado do que se está dançando e uma boa dose de conhecimento do que representam os sofrimentos das guerras e os preconceitos na vida do povo árabe****.

Essencialmente feminina essas danças podem ser acompanhadas por homens, com movimentos masculinos, destacando-se o tórax, ombros e braços. A dançarina deve ser soberana, elegante, manter postura antes, durante e depois da apresentação. Ter simpatia, charme e principalmente muita humildade.

Quanto mais experiente for a dançarina mais sucesso faz. A cultura árabe respeita a mulher madura, a exalta e admira, não discrimina a mulher de idade, tem preferência pela mais cheinha, do tipo gostosa, matreira e vaidosa. Em casas noturnas, restaurantes e festas árabes é muito comum homens convidarem as mulheres para dançá-las, é o desafio do homem em provocar a sensualidade da mulher. Um jeito árabe de paquera (flerte), uma vez que os costumes e valores morais da cultura são extremamente rígidos.

O povo árabe é totalmente contra os padrões estéticos do Ocidente, que impõe a mulher ser jovem e magra, tornando a maioria delas infelizes, isto sim é submissão. Os valores espirituais da cultura abominam a vulgaridade, considerando-a ofensiva, enaltece a auto-estima feminina, exalta a virilidade masculina, através de suas músicas e danças com muita sensualidade.

No Brasil em 1979, as danças étnicas árabes foram introduzidas pela mestra palestina Shahrazad Shahid Sharkid iniciando-se assim um trabalho único no mundo através da Raks el Chark. A meta de seu trabalho era a pesquisa e o estudo minucioso do corpo feminino através do registro das mutações ocorridas apartir da aplicação e execução de exercícios de sua elaboração. Havia também no trabalho de Shahrazad uma enorme preocupação com a formação de crianças e adolescentes para dança do ventre, procurando não confundir o trabalho corporal adulto com o infantil, respeitando-se seus espaços e suas mentes cronologicamente viabilizando a aplicação de exercícios de fisioterapia, com o cuidado de não agredir o universo infantil pelo estímulo prematuro para a vida afetiva e sexual.

Estas mutações são parte do infinito trabalho de anatomista da mestra artesã, uma escultora de corpos, sempre com a preocupação de não preterir determinadas partes do corpo, o que normalmente acontece com algumas danças ocidentais, onde para adquirir a desenvoltura exigida é necessário tornar cartesiano o corpo feminino, colocando-o em uma moldura onde todas são iguais.

Toda dança tem, evidentemente, o cunho sagrado, apesar do ocidente frequentemente utilizá-las erroneamente e propositadamente para vender sexo, padrões estéticos e para exploração do corpo da mulher e infantil, profanando os arquétipos religiosos. O homem sempre desejou aquilo que era de Deus e tenta adquirir, através do manto da "commoditização erotizada", tudo aquilo que não consegue obter pela conquista da espiritualização.

Danças Folclóricas e de Raízes

As "Danças Folclóricas e de Raízes" possuem um poder indiscutível de aglutinação, pois constituem a manifestação do comportamento cultural, histórico e social dos indivíduos. Refletem em sua construção coreográfica a soberania, o direito, a dignidade de vida dos povos das mais diferentes etnias, cores e credos, além de contribuir diretamente na socialização e educação de crianças e adolescentes principalmente pelo prazer que proporcionam. Resgata e eleva a auto-estima. Portanto, devemos ter muito respeito por estas manifestações que são verdadeiros alicerces para o desenvolvimento da consciência sócio-ambiental para comunidades, destacando-se a importância de trabalhos em grupos, aparelhando-as com estes importantes instrumentos necessários para a formação do caráter cultural e intelectual, e apurando o senso crítico pela observação e audição.

No artigo do semanário Al-Ahram, o coreógrafo Omar Barghouti discuste o significado da cultura e educação na preservação da identidade nacional e o espírito humano ao mesmo tempo. A criatividade e aprendizado são vitais ao projeto de sobrevivência, argumenta Barghouti, descrevendo como, mesmo sob o cessa fogo, o povo da sua vizinhança de Ramallah precisa de livros, música e jogos; e mesmo nos campos de refugiados, os pais cujas vidas e posses foram dizimadas estão preocupados em restaurar as escolas para seus filhos. Mesmo com esta cidade ocupada e destruída, Omar Barghouti mantém sua atuação na dança.

Barghouti põe esses valores num contexto histórico – os palestinos que foram forçados a fugir de suas casas em 1948 são assombrados por seu fracasso em resistir, ele diz. Ele explica que esse fracasso é atribuído à "consciência limitada" do tempo "a qual nesse contexto entende-se como uma combinação de ignorância, analfabetismo, falta de aptidões essenciais, como também a falta de um sentido claro de identidade. Portanto, cultivar uma tradição de educação e a prática da cultura é a chave para a sobrevivência dos palestinos como um povo: "os palestinos não podem se dar ao luxo de não fazer parte da reabilitação cultural na sua batalha ampla de reconstrução e luta pela emancipação," ele escreve. Neste ensaio comovente, Barghouti nos supre com a imagem da dança como um símbolo da sobrevivência e renovação palestina.

Nossa história sobre as danças étnicas árabes é muito mais longa, mas deixo esta contribuição para a reflexão e conto com todos para acompanharem este resgate da memória ancestral em busca da equidade social, dos valores comunitários e coletivos e, da importância de se construir uma economia justa e equilibrada como foi a dos nossos antepassados, quando a felicidade era pautada por uma "segurança alimentar" ordenada e coordenada pelas forças da natureza - com seus ciclos hidrológicos. Ao cultuar a sensualidade como uma dádiva de Deus e exorcizar o erótico profanado e degradador da natureza humana.

Num tempo em que o ser humano fazia parte do meio ambiente, e não o partia ao meio!


NOTA:

*Raks = dança Charq = leste, oriente. Charqi = oriental , portanto, Raqsa Ach-Charq (ou Ash-Sharq) é Dança do Oriente, Dança do Leste; Raqsa Charqyi = Dança Oriental. Raqsa Ash-Sharq é a pronuncia correta sendo Raqsa Al Sharq, para os egípcios e Raqsa Charkyi para os libaneses. Consulta Carlos Tebecherani Haddad - professor e pesquisador do idioma árabe da Universidade Católica de Santos.



** Belly Danse em francês = bela dança e Belly Dance em inglês = dança do ventre.



***São consideradas semitas todas as tribos beduínas, incluindo-se a etnia hebraica, cuja religião é o judaísmo. Com a migração destas tribos nômades entre outras que se miscigenaram, originam-se os ciganos do ocidente – e com a perseguição dos hebreus no Oriente Médio, advém a expressão "judeu errante", ou seja, refere-se aos judeus que partem em busca de uma terra, uma nação. (Lactho Drom – Michele Ray-Gravas. La Musique des tsiganes du monde de l’inde a l ‘espagne)


****O histórico das tribos beduínas está registrado através da cultura oral. Encontram-se estas narrativas em suas músicas, nas danças, nos contos que passam de pais para filhos, nos livros sagrados como O Alcorão, escrituras Baha’i, na Bíblia, no Talmut etc.. também nos poemas de Rumi, Gibran Kalil Gibran, entre outros poetas árabes e persas. Os cantos beduínos enaltecem o meio ambiente e a mulher, relatam o amor do povo nômade pelos ecossistemas desérticos, suas paixões. A cantora Om Kalthoun expressou com toda essência de sua belíssima voz a história desses povos que encantam o mundo por sua passividade, benevolência e profunda sabedoria milenar. Om Kalthoun morreu cultuada como a "Mãe do Egito". Uma feminista amada e respeitada. Jamais conseguiram fazer-lhe calar a voz!

Encontro Nacional de Contadores de Histórias

A Prefeitura de Santa Bárbara d’Oeste, em São Paulo, promove dias 13, 14 e 15 de julho o I Encontro Nacional de Contadores de História. Estão previstas apresentações e oficinas com contadores de história renomados. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pela internet no site www.santabarbara.sp.gov.br
Data: 05/07/2007
Inscrições gratuitas

Programação

13 de julho
20 horas: Apresentação “Meninas do Conto” (RJ)
21 horas: “Causos de Assombrar”

14 de julho
9 às 12 horas: “Deixa que eu conto” – contação de histórias nas bibliotecas e praças dos bairros
14h30 às 17h30: oficinas de Máscaras com Amauri Alves (S.Vicente), Brinquedobrando com Marília Tresca (SP) e Teatro de Sombras com Valter Valverde (SP).

15 de julho
10h30 às 12 horas: Apresentação Suzana Montauriol
14h30 – Parque dos Ipês – “Contos no Parque”
16h30 – Encerramento oficial – “Contos da Mata” com Amauri Alves (S. Vicente).

Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Santa Bárbara d’Oeste – cultura@santabarbara.sp.gov.br

Os predadores

Escrever foi tão difícil que valeu uma taça de champanhe

Ex-guerrilheiro, Pepetela passa a limpo a recente história de Angola

(Alvaro Costa e Silva)

Em 2005, ao pôr um ponto final em Os predadores (Lingua Geral, 552 páginas, R$ 45), Antônio Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido pelo pseudônimo de Pepetela (palavra que, em umbundo, uma das línguas de Angola, significa pestana), serviu-se de uma taça de champanhe. Um luxo ao qual o ex-guerrilheiro não é chegado.

– Isso foi uma maneira de dizer que me estava a libertar de qualquer coisa que afinal era dolorosa – conta o escritor. – Uma situação de desigualdade social tão forte como a que se vive em Angola não é fácil para quem lutou por uma sociedade mais justa. Os predadores mostra no que se tornou a nossa sociedade.



O livro acompanha a trajetória de Vladimiro Caposso (uma das especialidades de Pepetela, além da clareza de estilo e construção da narrativa, são os nomes), um sujeito disposto a subir na vida a qualquer custo. Na linha dos romances que passam a limpo a história de Angola – de que são exemplos Mayombe, A geração da utopia e Parábola do cágado velho – Os predadores descortinam os últimos 30 anos do país africano, período da guerra colonial. O protagonista, rapaz modesto do Calulo, filho de enfermeiro que tratava a tropa portuguesa, depressa descobre que sobreviver em Luanda em muito depende do vitorioso MPLA e, por isso, muda o nome de José para o mais revolucionário Vladimiro.


Outro personagem chama-se Nacib porque nasceu na altura em que a televisão angolana transmitia pela primeira vez uma telenovela, Gabriela, baseada no livro de Jorge Amado: 'Estava combinado há muito na família: se nascesse menina se chamaria Gabriela. Nasceu rapaz e ficou Nacib, podia ser de outra maneira?'. Em mais uma das obras do autor – Jaime Bunda: agente secreto, na qual também se investiga a história recente de Angola mas pelas veredas do humor – é descrito o mercado popular Roque Santeiro, o maior a céu aberto que existe no mundo.


– A novela tornou esse nome famoso – explica Pepetela. – A influência do Brasil sobre Angola, e não a podemos restringir apenas à televisão, tem aspectos largamente positivos, mas tem outros que o são menos. Penso que isso acontece sempre com os relacionamentos, quer entre pessoas, quer entre países. Mas dá para notar que se vão reforçando alianças. O aspecto mais importante é que isso permitirá fomentar amizades entre países que falam a mesma língua. Um e outro têm importância crescente nos seus respectivos continentes, também. A influência da televisão toca mais os costumes e os modos de vida. Nesse caso, tem aspectos negativos, por fomentar o consumismo, as modas e modismos, e atitudes estranhas ao que era a vida das pessoas. No entanto, não há como fugir a isso.

Autor de 16 romances (os dois mais recentes, O terrorista de Berkely e O quase fim do mundo, apontam uma guinada na carreira do escritor, pois não se passam em Angola), Pepetela prepara-se para participar da sua primeira Flip: no sábado, divide a mesa Guerra e paz com a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. E avisa: dispensa a champanhe.

Fonte:Jornal do Brasil, 28 jun. 2008. Idéias & Livros.