Temática indígena nas escolas

Livro para professores do ensino fundamental e médio aborda a questão indígena e suas representações nas escolas brasileiras. Lançamento será no dia 23/8, em Campinas
Por Mônica Pileggi
A escola foi, desde o início, o elemento principal na conformação das imagens sobre os indígenas. Somente nos últimos anos é que houve a inclusão da pluralidade como um valor positivo e o consequente reconhecimento dos indígenas como parte importante da sociedade e cultura brasileira. É o que conclui o livro A temática indígena – subsídio para os professores, que será lançado no dia 23 de agosto, em Campinas.
De autoria do arqueólogo e professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Pedro Paulo Funari e da pesquisadora da Universidade Complutense de Madrid (Espanha) Ana Piñón, o livro foi elaborado a partir de uma pesquisa de mestrado, seguido de doutorado, da coautora, além de outros estudos apoiados pela FAPESP.

A obra tem como público-alvo professores dos níveis fundamental e médio. “O livro tem uma apresentação teórica, histórica e cultural, assim como uma pesquisa empírica sobre a percepção dos alunos do ensino fundamental. Isso contribui para um diagnóstico de desafios, o que permite propostas de soluções no âmbito da escola e na formação dos professores”, disse Funari à Agência FAPESP.

De acordo com o autor, o livro surgiu da necessidade, tanto dos professores como dos alunos, de informações mais aprofundadas sobre os índios.
“Muitos jovens mencionam que têm parentes e/ou antepassados indígenas. Mas, ao mesmo tempo, ainda localizam o índio longe: no passado e no mato. Os índios, às vezes, aparecem como um indivíduo, ao lado de uma oca, sem seu contexto social e coletivo”, pontuou.

Ao longo de 128 páginas, os autores discorrem sobre a questão indígena e suas representações nas escolas brasileiras. No primeiro capítulo, Funari e Piñón abordam como se formam e se transformam as identidades sociais e a relação com os índios.

Em seguida, observam os modos de se estudar os índios, na chamada experiência etnográfica – para os autores, a melhor forma de se conhecer um grupo humano, em particular uma comunidade indígena, é imergir em seu mundo, no seu cotidiano. Depois, seguem pela trajetória histórica desses habitantes no continente americano e a situação atual dos índios no país.

Nos demais capítulos, o livro trata da temática indígena utilizada pela escola desde os tempos dos jesuítas até a escola republicana como projeto político, passando pela idealização dos índios no século 19, no âmbito da corte imperial do Rio de Janeiro.

Os autores examinam a influência da administração indígena pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) – criado em 1910, operou em diferentes formatos até 1967, quando foi substituído pela Fundação Nacional do Índio (Funai) – e finalizam com as transformações nas formas de inclusão da temática nas salas de aula.

Funari considera que, além de estereotipado, o ensino sobre o tema nas salas de aula está defasado, com o indígena retratado de forma distante, tanto no espaço como no tempo.
“Isso transparece na sua presença na maior parte das vezes referente à pré-história do Brasil. A legislação brasileira reconhece direitos aos indígenas, do uso da língua até suas terras. Na constituição e na legislação há uma ênfase grande na valorização da diversidade, contudo, tais avanços chegam à escola ainda de forma parcial”, ressaltou.

Formação mais ampla
“A temática indígena ainda é tratada de maneira incipiente e marginal em cursos de licenciatura em história, geografia e português; as que mais tratam do tema. Faltam nesses cursos disciplinas que tratem da pré-história do Brasil e da América, história indígena, da etnologia indígena e línguas indígenas, e que façam parte do currículo obrigatório”, disse Funari.
“Dessa forma, os futuros professores terão condições de aprofundar seus conhecimentos sobre os índios, aproveitar melhor a informação dos livros didáticos e ensinar de forma mais adequada aos alunos”, destacou.

O antropólogo ressalta que o livro poderá contribuir para uma formação mais ampla e variada dos atuais e futuros professores, pois apresenta aspectos históricos e culturais não só dos indígenas, mas do Brasil de forma geral. “A obra fornece, também, indicações de leituras que permitem ao leitor se aprofundar nos diversos temas tratados”, completou.

O livro será lançado no dia 23 de agosto, às 18h30, na Livraria Cultura do Shopping Center Iguatemi, localizado na Av. Iguatemi, nº 777, Vl. Brandina, Campinas. No evento, ocorrerá o debate “A Temática Indígena nas Escolas – Desafios para Educadores e Estudiosos”, com a participação dos autores.

Título: A temática indígena na escola: subsídio para os professores
Autores: Pedro Paulo Funari e Ana Piñón
Lançamento: 2011
Preço: R$ 29,90
Páginas: 128
Mais informações: www.editoracontexto.com.br

Fonte: http://agencia.fapesp.br/14365