As duas moças bonitas como melancias


Logo na introdução do conto, onde há a descrição da aldeia onde viviam as duas moças, lembrei de uma idéia presente em muitas tradições: a fartura como felicidade de um povo.

Também me lembrei de um fato curioso que me aconteceu em relação à MELANCIA.

Fui participar de uma seleção para uma empresa na qual sempre almejei trabalhar, pelo simples fato de que seu endereço era, nada mais e nada menos, no centro empresarial do Jardim São Luís, a referência local de sucesso profissional.

Pois bem. Eu, com meus 17 anos, fui submetida a vários testes psicológicos típicos de seleções de RH, como exercícios de lógica, dinâmicas e, é claro, uma redação! Aí é que entra a MELANCIA, pois na redação fora pedido que o candidato dissertasse sobre uma fruta que gostaria de ser.

Pensei, pensei e escolhi a... MELANCIA! Justifico-me. Esta fruta é para mim a que mais oferece dádivas em fartura para o homem, com muita água, polpa e sementes. Então, logo relacionei toda essa fartura com o meu potencial a ser dedicado à tal empresa.

Resultado: não fui selecionada para a vaga. Matutei durante anos sobre qual teria sido meu erro e sempre culpava a MELANCIA!

Hoje em dia tenho uma hipótese embasada na crítica de nossa visão de mundo ocidental e capitalista. Ao se deparar com meu perfil, entende-se, mulher jovem negra e moradora da periferia que cercava o "forte empresarial", o selecionador logo relacionou minha vontade em ser MELANCIA com futuros problemas para a empresa...

Provavelmente, para ele, toda essa minha "fartura", principalmente de sementes, representaria muitas licenças-maternidade!

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