Nascido nos subúrbios do Rio de Janeiro, de origem humilde, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) iniciou sua carreira como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial. Considerado por muitos o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos principais romancistas e contistas do mundo, começou a escrever durante o tempo livre e colaborou com diversos periódicos antes de tornar- se um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Sua obra abrange praticamente todos os gêneros literários. Jornalis- ta, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, na contística refletiu sobre a cultura popular urbana e retratou o ambiente político, cultural e social do Rio de Janeiro no século XIX e na virada para o século XX. No decorrer do quase meio século da produção literária de Machado de Assis, de 1864 até sua morte, o Brasil testemunhou um ciclo de modernização, que aparece na obra do autor com suas contradições e dilemas. Em seus romances e contos, além das crônicas, pode-se acompanhar a história do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil e microcosmo de sua história urbana.
Variados são os temas e os enredos contidos nos contos apresentados nesta obra, entre os quais se destacam as críticas ao clientelismo, à insíg- nia e à demagogia na sociedade brasileira (em "O dicionário" e "Teoria do medalhão", por exemplo), os avanços tecnológicos, a religiosidade (em "O enfermeiro"), referências ao universo musical erudito e popular no Rio de Janeiro do Oitocentos ("O machete"), as relações entre os centros hegemô- nicos e os países vistos como periféricos e as ligações amorosas permeadas de privação e crueldade (em "A causa secreta"). Nesta primeira tradução da obra de Machado em árabe, observam-se a universalidade e a atualidade de sua escrita mais de cem anos após sua morte. Autor que se antecipou à sua época, Machado de Assis ajudou a popularizar o gênero conto desde cedo. Contos Fluminenses, sua primeira coletânea, data de 1870, anterior ao primeiro romance, Ressurreição. A segunda coletânea de contos, Histórias da Meia-Noite, de 1873, antecede o segundo romance, A Mão e a Luva.
Como escreveu José Veríssimo (1857-1916), "do conto foi ele, se não o iniciador, um dos primeiros cultores e porventura o primacial escritor na língua portuguesa. Efetivamente ninguém jamais contou com tão leve graça, tão fino espírito, tamanha naturalidade, tão fértil e graciosa ima- ginação, psicologia tão arguta, maneira tão interessante e expressão tão cabal, historietas, casos, anedotas de pura fantasia ou de perfeita verossi- milhança, tudo recoberto e realçado de emoção muito particular, que varia entre amarga e prazenteira, mas infalivelmente discreta". Diz a epígrafe de Várias Histórias, inspirada em Diderot: "Meu amigo, façamos sempre contos. O tempo passa e o conto da vida se completa sem disso darmos conta".
Fonte: Publicações BibliASPA - http://www.bibliaspa.com.br/obra.jsp?cod=2
Nenhum comentário:
Postar um comentário