A porrada e o suco de maracujá


Um belo dia de sol eu e todos os meus amigos estávamos brincando como fazíamos todos os dias, afinal tínhamos um campinho para jogarmos futebol, bolinha de gude, rodar peão, andar de bicicleta, soltar pipa etc.

O campo parecia mais um parque que tentávamos aproveitar o máximo possível, afinal criança gosta de espaço para correr, chutar, gritar e fazer todas as coisas que queriam.

Em um belo dia, brincando no campinho, correndo pra lá e pra cá e faminto como sempre, vem um rapaz mais velho com uma lata de linha e uma pipa no alto. O nome dele é inesquecível. Era o GETÚLIO, rapaz mais velho que sempre soltava pipa com todos os garotos. Mas esse dia foi especial, pois Getúlio sabia do que eu gostava. Não era pipa, peão, linha, bolinha de gude, não; era algo com uma cor diferente e que dizem que nos acalma; era algo inigualável chamado de suco de maracujá.

É isso mesmo, suco de maracujá!

O Getúlio lembrando disso me fez uma proposta tentadora, ele me prometeu um copo grande com suco de maracujá e uma pipa também muito grande e colorida - tudo que qualquer menino queria. Só que a tarefa não era agradável. Porém, não me pareceu tão difícil. Eu tinha apenas que dar um murro no nariz de um amigo, afinal, um amigo não se incomodaria de ajudar um outro amigo, né! O nome dele era JORJINES.

Era algo muito simples: um murro no nariz dele e todo mundo ficaria feliz. Uns mais e outros menos, mas ficaríamos todos felizes. Após pensar durante um breve momento aceitei a proposta: era só uma porrada e eu nem batia tão forte.

Então comecei a tentar convencer o meu amigo a me deixar dar um soco, ou melhor, um pequeno soquinho. Algo leve, doeria só um pouquinho e até estava disposto a dividir o prêmio com ele, a pipa e o suco. Achei justo, mas, infelizmente, a justiça é vista de formas diferentes e sempre beneficiava alguém, e esse alguém no momento era eu.

Já que não consegui pelo jeito fácil, tive que partir para o jeito mais difícil, ou seja, tentar dar o soco sem a permissão do dono do nariz, afinal era uma pipa e um copo enorme com suco de maracujá.

Comecei a tentar acertar um soco e Jorjines nessa altura do campeonato falava:

- Lula, não faz isso, ele quer que nós briguemos.
- Vem cá para eu dar um murro no seu nariz! Eu respondia.

Depois de algumas tentativas, finalmente depois de vários golpes o nariz foi acertado. Só tinha um pequeno problema: o nariz não foi de meu amigo e sim o meu. Que ironia, tentei dar um soco e acabei levando um contra golpe! Aquele garoto que dizia ser meu amigo me deu um soco no meu nariz! Pior do que sentir a dor foi ver o meu nariz sangrando, durante algum tempo. Totalmente tomado pela ira que jorrava pelas minhas narinas, comecei a correr atrás dele, mas era inútil, então decidi ir para casa lavar o rosto.

Cheguei a casa encontrei a ENI, a filha do dono do quintal, onde morávamos. Ela me ajudou a lavar o rosto e depois fui dormir. É isso mesmo, fui dormir porque minha mãe não gostava de brigas e eu sabia que ela tinha dó de me acordar. Então dormir era a solução para que ela não me batesse, afinal já tinha apanhado na rua, não seria justo apanhar duas vezes. Mas desta vez a tática do sono não funcionou, minha mãe me acordou com uns bons tabefes.

Também, quem mandou trocar uma amizade por um copo de suco de maracujá.


Por Luiz Rodrigues dos Santos Neto

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