Ainda não sei quem sou
Mas o meu nome me chama de Robinson
Que diz que quer dizer filho de Robin
Embora meu pai se chamasse Joaquim
- ?
- Meu apelido vem da forma carinhosa dimãenutiva
Quando ela me chamava do campinho que ficava em frente da nossa casa
O qual era minha primeira casa até a luz do dia fugir inteira
- Robiiiiiiiiiinho, mãe chamava, nas horas dela, d'eu vir para dentro
- E eu tardava em retornar, do estádio mais saudoso que o Morumbi não viu
E o eco desse Binho ficou lá, parado no meio daquele chamamento de minha mãe
Naquele campinho de gols, de gol a gol; quando havia poucos para tratar de bola,
Naquele que era o nosso , que os buracos eram nossos, de poças rasas; mas profundas na memória, que quando chovia era uma festa de sujação, mães e mãos bravas
nos tanques, por isso era melhor jogar as peladas quase pelados, bolas de capotão
E quem era o capitão? Nem existia isso não, e o jogo era jogado, ganhado ou perdido às regras nossas, fifas nenhumas, muitos chapéus, poucos bonés, nenhum cartola.
Aquele campinho que ganhei um prego no pé, e que quase me tetanei
Aquele de correrias, pega-pegas cambalhotas e pipas, poucas pipas muitas bolas
Aquele que mil gols eu fiz sem Romário existir, e que Pelé eu vi, nos braços de minha mãe, mas dentro do Morumbi
Aquele de gandulas; de quem ficava para próximo; em dias mais concorridos ou férias, tínhamos pressa, tempo era gol
Aquele de goleiros frangueiros, posição pouco aceita e despopularizada entre nós, época que a seleção atacava e os artilheiros estavam em alta, ficar no gol era quase que uma punição, e poucos se prestavam a agarrar as bolas, a posição era disputada no “dois ou um”, e ser artilheiro nesses casos, uma obrigação
Aquele campinho de galinhas e seus pintinhos que ciscavam por ali, e que vez ou outra uma bola perdida depenava um futuro frango
Que no primeiro tempo era uma descida, e no segundo uma subida, quando havia tempos
De traves feitas do que dava, sem redes, de muitos gols duvidáveis mas inexplicáveis
Formidáveis, goláveis
Aquele campinho, de onde todos saíram vitoriosos, e que nunca nenhum ser humano amanheceu morto por ali
Tempos que não cuidavam dessas desovas
Aí vieram o asfalto, os carrinhos de rolimãs, carros carros carros, os prédios, todos os bancos, as delegacias, os puteiros e as casas Bahia
E o campinho também se transformou
Hoje, ele é apenas um desmanche de carros depenados e apreendidos pela 37ª DP
Aquele campinho não existe mais, eu sei
Mas insiste ainda em mim
Robinson Padial (Binho)
Um comentário:
Ah! Barika! (Ah! Parabéns!)
"Binhografia inacabada" é daquelas pérolas que surgem muito raramente pelas mãos e mentes de iluminados(as).
Gostaria, inclusive, de obter a autorização para citá-la em minha tese de solicitação de alteração do meu nome de família (sobrenome).
Caso for possível envie-a para o e-mail: adomair_o_ogunbiyi@yahoo.com.br.
Grato,
Adomair O. Ogunbiyi
São Luís - MA
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