Panorama da arte brasileira do MAM-SP comemora 40 anos com seleção internacional de artistas

Intitulada Mamõyguara opá mamõ pupé, 31ª edição da exposição tem curadoria de Adriano Pedrosa e abertura no dia 3 de outubro (sábado), a partir das 18h

Uma das mais importantes exposições do calendário nacional, o Panorama da arte brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo completa 40 anos com uma edição inusual e controversa. Intitulada Mamõyguara opá mamõ pupé, a mostra de 2009 tem curadoria de Adriano Pedrosa e uma seleção que traz cerca de 30 artistas estrangeiros. A abertura acontece no dia 3 de outubro (sábado), a partir das 18h.

Os artistas são estrangeiros, mas a cultura brasileira é o eixo condutor dos trabalhos. Adriano Pedrosa optou por exibir artistas de fora do país cujas obras são influenciadas pela cultura e arte brasileiras em lugar de fazer um novo recorte da produção de artistas nacionais.

A decisão de fazer um Panorama da arte brasileira sem artistas locais não é arbitrária. Na última década, o Brasil passou a ocupar internacionalmente um lugar de referência em diversas áreas de criação, seja arte, seja arquitetura, realizadas principalmente a partir dos anos 50, como o modernismo de Oscar Niemeyer e o neoconcretismo de Lygia Clark, Lygia Pape e Helio Oiticica.

A idéia é colocar em xeque o conceito territorialista da arte, que a classifica de acordo com o país ou a região onde se dá. Num mundo globalizado, onde as fronteiras físicas vem se tornando cada vez menos determinantes para a formação cultural dos povos à medida que os meios de informação se multiplicam e ganham facilidade de acesso, manifestações artísticas emblemáticas dos mais diferentes lugares consolidam-se como inspiração para novos criadores, independentemente da região de origem.

Segundo o curador, o calendário expositivo no Brasil já é majoritariamente voltado aos artistas daqui, ou seja, há mais necessidade de mostras internacionais do que locais; e por ser o Panorama uma exposição bienal, seria difícil propor um novo olhar significativo sobre a produção nacional, dado o curto intervalo de tempo para mudanças substanciais no cenário artístico do país.

O nome desta edição, Mamõyguara opá mamõ pupé, reverbera sua proposta. Trata-se da tradução para o tupi antigo da expressão “Foreigners everywhere”, da dupla francesa Claire Fontaine (formada pela italiana Fulvia Carnevale e pelo irlandês James Thornhill, ambos vivendo em Paris). O título faz parte de uma série de trabalhos da dupla que são apresentados no formato de uma escultura em neon. A versão em português, “Estrangeiros em todo lugar”, também será exposta no Panorama. A referência da expressão original, por sua vez, é o nome de um grupo anarquista italiano que combate o racismo. A tradução para o tupi, feita pelo Professor Eduardo Navarro, especialista em Tupi da USP, mantém o duplo sentido de que há estrangeiros por todos os lados e de que não importa onde vão, os artistas são estrangeiros.

Há duas categorias entre os artistas selecionados. A primeira e mais numerosa (cerca de 20 nomes) é de artistas que já possuem uma trajetória reconhecidamente influenciada por aspectos da cultura brasileira. Neste caso, houve a preocupação curatorial de explorar trajetórias em que se reconhecesse claramente a influência do Brasil, e não aquelas que utilizam pontualmente um ou outro aspecto mais evidente, como um visitante estrangeiro que absorve apenas a superfície cultural.

Entre eles está, por exemplo, o alemão Franz Ackermann, que mostra em seus trabalhos referências explícitas ao tropicalismo e à arquitetura brasileira em colagens e pinturas nas quais emblemas como o edifício Copan, projeto de Oscar Niemeyer no centro de SP, se mesclam ao próprio retrato do artista, confundindo-se e saltando de seus olhos.

Destacam-se também o mexicano Damián Ortega, a italiana Luisa Lambri, a peruana Sandra Gamarra e o venezuelano Juan Araujo.

Já a iniciativa das residências do Panorama têm por objetivo possibilitar a jovens artistas com interesse pela cultura e a arte brasileiras uma imersão de até oito semanas em São Paulo para apreender esses aspectos de forma mais orgânica, o que pode servir de influência em sua trajetória futura. A obra a ser exposta não é a maior preocupação, mas sim esse processo de mediação, o que levou Adriano Pedrosa a estipular que os residentes pudessem apresentar trabalhos previamente criados.

Os artistas residentes são: Adrián Villar Rojas, Alessandro Balteo Yazbek, Claire Fontaine (James Tennant Thornhill e Fulvia Carnevale), Jose Dávila, Juan Pérez Aguirregoicoa, Mateo López, Runo Lagomarsino e Tove Storch.

Concluindo, nas palavras do curador, “se com a antropofagia, a partir do modernismo, era o intelectual brasileiro que se apropriava da cultura européia para digeri-la e produzir algo próprio, agora é a nossa cultura que está sendo canibalizada pelo estrangeiro”.


O curador

Adriano Pedrosa é curador, escritor e editor e vive em São Paulo. Publicou em Arconoticias (Madri), Arte y Parte (Santander), Artforum (Nova York), Art Nexus (Bogotá), Art+Text (Sydney), Bomb (Nova York), Exit (Madri), Flash Art (Milão), Frieze (Londres), Lapiz (Madri), entre outras. Foi curador adjunto da 24ª Bienal de São Paulo (1998), curador do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2001-2003), co-curador da 27ª Bienal de São Paulo (2006), e diretor artístico da 2ª Trienal Poli/Gráfica de San Juan (2009). Outros projetos curatoriais incluem: F[r]icciones (Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, 2000-2001, com Ivo Mesquita) e Farsites: Urban crisis and domestic symptoms (InSite_05, San Diego Museum of Art, Centro Cultural Tijuana, 2005) e Panorama da Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 20009). Atualmente, Pedrosa é diretor-interlocutor do Programa Independente da Escola São Paulo—PIESP.


Sobre o Panorama da arte brasileira

O Panorama da Arte Brasileira foi idealizado por Diná Lopes Coelho em 1969, quando o Museu de Arte Moderna passava por um período de reconstrução de seu acervo (doado integralmente por seu fundador, Ciccillo Matarazzo, para a USP, em 1963, o que deu origem ao MAC) e passou a ocupar o Pavilhão Bahia, prédio projetado por Lina Bo Bardi para a 5ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, onde permanece ainda hoje. Um dos raros casos brasileiros de continuidade em práticas institucionais, a mostra vem sendo realizada a cada dois anos, sem interrupções, desde 1995 (anteriormente, era anual e com divisão por categorias, tais como pintura, escultura etc).

A cada edição, além da doação espontânea de obras por meio de seus criadores, o Museu integra ao seu acervo obras contempladas com prêmios-aquisição e incentivo. Desde sua criação até 2009, as premiações e aquisições do Panorama contribuíram com a inclusão de 138 trabalhos no acervo, sem contar as doações diretas dos artistas.

Ao longo do tempo, o Panorama se estabeleceu como uma das mais importantes mostras do cenário nacional. Em cada edição, um novo curador é convidado, abrindo espaço para diferentes visões sobre os caminhos da arte contemporânea.

Em 1997, o MAM passou a promover itinerâncias nacionais do Panorama (Rio de Janeiro, Recife, Salvador, entre outras cidades), contribuindo para o debate sobre temas contemporâneos por onde passa. O Panorama da Arte Brasileira de 2003 foi um importante marco na história da mostra, pois deu início ao processo de internacionalização da exposição: o curador convidado foi o cubano Gerardo Mosquera e, pela primeira vez, a mostra foi também apresentada fora do Brasil, no Museu de Arte Contemporânea de Vigo, na Espanha. A edição de 2007 do Panorama, Contraditório, com curadoria de Moacir dos Anjos, foi exibida também em Madri.


SERVIÇO:

Exposição Panorama da arte brasileira 2009 – Mamõyguara opá mamõ pupé – Grande Sala e Sala Paulo Figueiredo
Curadoria: Adriano Pedrosa
Abertura: 3 de outubro de 2009 (sábado), a partir das 18h
Visitação: 4 de outubro a 20 de dezembro de 2009
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portão 3)
tel (11) 5085-1300
Horários: Terça a domingo e feriados, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Ingresso: R$ 5,50
Sócios do MAM, crianças até 10 anos e adultos com mais de 65 anos não pagam entrada. Aos domingos, a entrada é franca para todo o público, durante todo o dia.
Site: www.mam.org.br
O Setor Educativo oferecerá nesta exposição uma Programação incluindo visitas agendadas com atividades práticas e encontro para professores, além das edições do Família MAM aos finais de semana. O agendamento pode ser feito por telefone: (11) 5085-1313

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