Há muitos e muitos anos, quando as estrelas ficavam bem pertinho da terra, os saberes dos grupos primitivos eram repassados àqueles que estivessem prontos para ser iniciados por intermédio de determinados mitos e histórias escolhidos pelo orador do clã. Naquele tempo, a narrativa também fazia parte do cerimonial de iniciação e estava vinculado à pessoa que possuía os contos como amuleto: o conto é uma espécie de amuleto verbal, um meio para operar magicamente o mundo. A tradição oral, como ato de falar, resgata o melhor das velhas tradições e os aspectos mais basicamente humanizadores da convivência. A oralidade envolve o corpo que fala, por isso é mais sensual que a escrita; talvez tenha sido por isso que todas as tradições tenham dado um valor fascinante às realizações da voz. O outro ingrediente das manifestações orais é a face a face.
Vimos que no princípio, “Falar” (narrar) era tudo, até que os tempos ensinaram que muitas palavras o vento leva. Apesar da importância e reconhecimento do poder da narrativa, tornou-se mister registrar esses eventos preciosos e com isso até prender as histórias ao papel, até porque não se tratava de qualquer palavra, não se tratava de qualquer história. Ao que parece outra necessidade intrínseca do homem é deixar a sua marca, é contar a sua história através da grafia, dos desenhos, da dança, das imagens simbólicas.
Fonte: Contar Histórias, de Alessandra Giordano, editora Artes Médicas
Foto: Marlene Bergamo, Quilombo Cafundó
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