Oswaldo de Camargo - Ela começa a existir a partir do momento que o negro olha para si mesmo e passa a contar como negro suas experiências particulares, suas memórias, sua vida, suas diferenças, sua identidade, mesmo que esta escrita tenha como base um português camoneano. A grosso modo podemos iniciar este movimento com Luís Gama ao escrever o poema "Bodarrada", que traz o problema da identidade negra. Um texto como "Bodarrada" só poderia ter saído de um negro. O branco não pode idealizar isto, pois o autor está trazendo sua experiência particular de negro. É verdade que podemos citar, no século XVIII, Domingos Caldas Barbosa, mas aí de uma maneira mais enfraquecida, o "Eu", mesmo, aparece apenas com Luís Gama. Depois vem Cruz e Souza com "Consciência Tranqüila", "Escravocratas" e sobretudo "Emparedado". Essas obras são particularíssimas, jorram de dentro de um "Eu" negro.
Ninguém vive a morte do outro, a vida do outro, ou o sonho do outro. No caso, o negro resolveu escrever olhando para si, com sua visão particular. E esta visão particular é provocada. Ela quer ser particular. Ele quer ser negro. Ele escolhe entre os vários temas de seu interesse, a parte humana ligada ao negro. Pode ser uma fase? Pode. E essa fase é necessária, pois a visão que o Brasil teve (e ainda tem) do negro foi dada por escritores brancos. Por bons escritores até, como Jorge Amado, por exemplo, que sempre tratou de negros em suas obras. Porém, alguns textos que escrevo, jamais poderiam ser escritos por ele ou por outro escritor branco. Por faltar-lhes o particularismo de viver uma experiência negra. E por que não se fala isso do branco? Porque o branco vive com naturalidade sua identidade. O negro não. A identidade do negro foi perdida ao ser encravada num mundo ocidental, onde as regras do belo foram ditadas pela Grécia, por Roma, pela Bíblia, pela religião católica e etc.
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