Árabes somos nós


Que o Brasil é terra acolhedora ninguém duvida. Difícil mesmo é acompanhar as revoluções silenciosas por meio das quais os imigrantes desenham nosso rosto.

Nossas origens árabes são ainda desconhecidas e distantes. Turcos? Têm gosto especial por mascatear? Dominam uma língua estranha? São todos muçulmanos? Em situações assim, não há melhor caminho do que conhecer sua história.

mosaico que o dossiê “Árabes no Brasil” oferece é de uma riqueza estonteante. Oswaldo Truzzi puxa os fios que já chegaram atados aos portugueses que conquistaram a América moldados pelas influências árabes. Mais tarde, levas de imigrantes sírios e libaneses descarregam, além desses novos grupos, traços culturais que viajam por todo o Brasil. Dos centros urbanos aos confins da Amazônia, explica John Karam, surpreenderiam com sua arte de negociar. Paulo Hilu escreve sobre a presença da religião católica, que muitos deles professavam. A formação de nossas palavras e linguagem não escapou dos árabes, contam Evanildo Bechara e Paulo Farah. Outros traços – desta vez na arquitetura, como lembra Rossend Casanova – surgem na valorização das linhas mouriscas, como aquelas desaparecidas à beira da Baía de Guanabara com a destruição do Pavilhão Mourisco.Na barca dessa nossa história cabem mais imigrantes. Ronaldo Costa Couto apresenta Francesco Matarazzo, italiano que tropeça no azar quando desembarca, mas inverte os caprichos da fortuna.


Sabrina Gledhill revela as estranhas imagens que o Brasil mereceu na literatura inglesa, estimulando a travessia de muitos britânicos. Nem Sherlock Holmes escapou.


As trocas não param nem mesmo dentro das fronteiras. Celebrando o centenário de Mestre Vitalino, Angela Mascelani percorre a trajetória do artesão que, com delicadeza, foi capaz de amalgamar o erudito e o popular em figuras da gente do Nordeste agrário.



Carta do Editor - Nº 46
Luciano Figueiredo

Revista História da Biblioteca Nacional, nas bancas

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